30 junho 2009

viragens

Andei de férias do emprego número 1.
Continuei a trabalhar no duro no número 2.
Deixei de lado as histórias e as vagabundagens.
Larguei as diambulagens e as divagações.
Troquei os dias em que o mundo me parecia ao contrário por um reencontro comigo mesma.
Retornei com os pés à terra mas mantive no ar laivos de loucura. De uma outra loucura. Menos louca e mais consciente.
E voltei. Mais calma, mais serena e menos turbulenta e destabilizadora. Acho eu.

19 junho 2009

amanhã. só amanhã.

Amanhã, e só amanhã, estaria muito bem noutro sítio que não este.
Amanhã, e só amanhã, estaria muito bem nos Açores.
Amanhã, e só amanhã, queria juntar o agradável ao delicioso.
Amanhã, e só amanhã, queria ver e ouvir Kings of Convenience.
Nos Açores.

18 junho 2009

procuram-se parceiros

... para o Optimus Alive'09, no Passeio Marítimo de Algés, entre 9 e 11 de Julho.
Interessam-me Machine Head, The Klaxons e Placebo, em dias diferentes.
Aceitam-se sugestões.
Grim Reaper, desculpa, mas se, há dez anos atrás, largaria tudo pelos Green Day, hoje o meu salário é vocaciconado para os Placebo. Que dizes?

17 junho 2009

no mundo dos outros - versão Y

- Ai, miga, engordei tanto. Tenho mais quatro quilos e o Verão está aí.
(ponto 1 – a senhora nem sequer me conhece)

- E tu também estás mais gorda, não estás, miga?
(ponto 2 – são estes comentários que me fazem ter vontade de fuzilar alguém)

- Estás grávida, miga?
(ponto 3 – sim, estou, há pelos menos dois anos e meio)

- Mas tu também és nova, miga.
(ponto 4 – sim, dependendo do ponto de vista)

- Eu é que já não, miga.
(ponto 5 – é um facto)

- Ai, miga, mas tu estás mais gorda que eu.
(ponto 5/conclusão – mudei de dealer de papossecos)

15 junho 2009

copos e bola

“A tua vida agora é só copos e bola. ‘Tá o mar feito num cão” lê-se na mensagem que acaba de cair no meu telemóvel.
Sim, a minha vida tornou-se apenas copos e bola. Os dias são passados num clube de futebol, a produzir conteúdos para uma revista que fala única e exclusivamente sobre bola. As noites correm atrás do balcão de um clube de jazz, onde sirvo caipirinhas e afins. Logo eu… que não gostava de futebol e que combinei comigo mesma não voltar a atender gente.
Está realmente o mar feito num cão!

12 junho 2009

oscilações

Mudei de casa e de vida.
Mudei de ares.
De rotinas.
De ocupações.
Mantive o emprego.
E arranjei mais um trabalho.
Oscilo entre sensações opostas que entram, frequentemente, em ruptura.
Oscilo entre horas atribuladas e vazios mentais.
Oscilo entre o que quis e o que quero.
Se me sinto bem?
Oscilo entre o sim e o não.
Entre os minutos contados e os que fluem livremente.
Com uma única certeza: a de que me ergo sempre.
A de que, embora o chão pareça fugir-me do corpo e da alma, eu me ergo e avanço.
Hoje e sempre.
Independentemente das barreiras que teimam em colocar-me objecções.

09 junho 2009

amanhecer

O dia amanheceu hoje menos cinzento, menos pesado, menos tardio. O meu corpo despertou com tatuagens disfarçadas na pele mas vincadas numa alma desassossegada e inquietada. E hoje aceitei-o assim.
Deixei o sol afagar-me o rosto e o cheiro da Primavera afastar as rugas que perduram cá dentro. Há um recomeço a cada manhã. Hoje arranca o meu.

08 junho 2009

memórias

Lembro-me dos dedos entrelaçados. Como se o mundo dependesse daquele aperto.
Lembro-me dos olhares. Presos um ao outro. Como se outro Universo não existisse.
Lembro-me dos sorrisos vagos, escondidos, envergonhados.
Lembro-me da sensação de descoberta. Da magia daquele despertar.
Lembro-me dos rostos repletos de felicidade.
Lembro-me dos primeiros toques na pele e das afinidades.
Lembro-me das poucas horas de sono e do cansaço que não existia.
Lembro-me de falarmos de cães, de ilhas, de música, de anéis, de botas, de concertos e de trabalhos.
Lembro-me que ainda estudava e pisava os palcos.
Lembro-me que o pano se fechara mal nesse dia. E que a noite era de eclipse.
Lembro-me de tudo isso e muito mais.
E sei que não o vou esquecer.

05 junho 2009

certezas

É inevitável que nesta imparável dinâmica da vida tudo mude. Ou quase tudo. A podridão do mundo que corre lá fora acentua a nossa própria podridão. E devasta objectivos traçados em conjunto.
Afunilam-se valas comuns, iniciadas em esquinas opostas. E rugem fantasmas, impossíveis de domar.
A hora é de mudança. E é-o a cada nova manhã. Há a certeza de que os caminhos são sinuosos. Ou assim se nos apresentam. Mas há também a impenetrável verdade de que, apesar dos tombos, todos nos voltamos a erguer. Mais cedo ou mais tarde. Todos voltamos a ser gente vertical. Porque de horizontalidade basta o céu e os mares.

04 junho 2009

desalentos

Sim. Talvez o mundo não passe de um mercado de trocas.
De pessoas. De emoções. De vivências.
Sim. Talvez o ciclo da vida seja apenas um percurso pelo qual se caminha para atingir determinado fim.
De perfeição, talvez.
Talvez o meu seja apenas esta busca insaciável e desassossegada.
Talvez tenha procurado demasiado sem me aperceber dos trilhos que tracei, que ultrapassei, que deixei no passado.
Talvez eu não busque a perfeição.
Talvez anseie apenas algo que não se torne efémero a qualquer instante.
Talvez queira perpetuar euforias e afastar desalentos.
Mais do que em qualquer outro dia, hoje há um vazio doloroso que me consome.
Hoje há um silêncio que ecoa ruidoso dentro de mim.
Hoje há passos incertos numa estrada turbulenta e desamparada.
E a desoladora certeza de ter falhado.
De, mais uma vez, ter falhado.

03 junho 2009

the build up

The build up lasted for days
lasted for weeks, lasted too long

our hero withdrew, when there was two
he could not choose one, so there was none

worn into the vaguely announced

the spinning top made a sound like a train across the valley
fading, oh so quiet but constant 'til it passed
over the ridge into the distances
written on your ticket to remind you where to stop
and when to get off
........................
Kings of Convenience feet Feist
Riot on a Empty Street - 2004

02 junho 2009

dias de neblina

Pairava no nublado do céu um silêncio arrepiante, agressivo, incómodo. Pairava no ar um vazio inquietante e constrangedor. E nos gestos uma tormenta abafada, difícil de digerir ou enunciar. Escondidas nas entrelinhas estavam palavras silenciadas por mordaças invisíveis e pensamentos que esvoaçavam para a longitude do não-saber.
Haviam saudades que não se consumiram pelos dias ensolarados desta Primavera humedecida. Haviam partidas que se queriam distantes e rostos cuja ausência magoava.
Cresciam as dúvidas e acentuavam-se as incertezas. Tumultuavam hesitações em lugares sombrios até arrefecer a morna vontade de querer o desconhecido e amar as miragens e os desertos.
No caos coordenado da cidade, viajavam vagabundos de rostos desconcertantes e mentes minadas de ilusões. Cirandavam nas ruas imagens aturdidas de liberdades ceifadas pela consciência e arrastavam-se os pés ao quotidiano.
Tudo parecia imóvel quando nada estava parado. Tudo parecia vão, quando os estímulos existiam em cascatas e torrentes impiedosas. Porém, passou. Como tudo, de resto, passa.

01 junho 2009

regressos

Se as partidas e a sensação de mudança e aventura enchem cada um dos poros do meu corpo de energia, os regressos - os poucos que ainda vou fazendo - afastam toda e qualquer inquietação daquilo que sou.
A imensidão que rodeia estas terras de pão, povoadas por gentes de paz, mantém o meu desequilíbrio alinhado noutro sentido. E a linearidade do céu e da planície, que parecem caminhar lentamente lado a lado, saúda a paz à sua passagem.
Gosto do olhinho do sol que espreita lá ao fundo as searas e da calma que mantém afastada a massificação.
Voltar a Beja sabe-se sempre a voltar a mim.