24 outubro 2017

(des)igualdade

É-me recorrente ter vontade de esbofetear pessoas. Acontece-me com a frequência certeira com que os dias se sucedem uns aos outros. A fuga constante a essa tendência intrínseca é a prova maior do meu auto-controlo. Abomino este impulso natural mas sei-o verdadeiro. Forço as convicções a terem mais força que os estímulos exteriores. E domino-me. A muito custo, sabendo-me errante na essência, domino-me.

Em dias como o de hoje, em que se assinala a igualdade no seio de cada município, esse impulso é gritante. E eu fervo. Em sofrimento, empenho-me na tentativa de transformar um par de sopapos acompanhado de um grito aos ouvidos num método pedagógico que seja mais funcional. Mas o desalento custa-me. Cansa-me.

“Perdoai-os que eles não sabem o que fazem” não me serve de máxima. Não perdoo. Impinjo informação a quem não a procura. Explico, em paciência que dói, a quem não quer saber. Questiono e simplifico. Exemplifico. Mas a ignorância alheia transtorna-me. Incomoda-me e corrói-me. E eu não perdoo. Desculpo a falta de conhecimento e ofereço soluções. Mas não perdoo a indiferença. Não perdoo a ignorância. Porque este mundo também é meu.

Incomodam-me as caminhadas por uma causa. (De que serve tanta gente junta se não se chega a ninguém? Foda-se!) Incomodam-me as frases feitas e os vídeos históricos. (Outra vez a mesma conversa? Foda-se!) Incomodam-me os colóquios, as conferências e os debates, de participação livre, onde só vão os que já nutrem interesse pelo tema. (Quão difícil é perceber que é aos que não querem saber que é necessário chegar? Foda-se!) Incomodam-me os conceitos lapidados, uma e uma outra, em bases políticas que se renovam sem nunca atingir o patamar da acção prática. (Quantos nomes diferentes deve ter o mesmo problema antes de se procurar realmente uma solução? Foda-se!)


Chega de apelar à reflexão. Já chega! Já chega de gente que se diz a reflectir. Há décadas que se finge reflectir. Há décadas que se fazem estudos e relatórios. É preciso agir. É urgente fazer. É urgente informar. É urgente educar. É urgente o ensino de uma cidadania activa. É urgente uma aproximação às comunidades e uma intervenção, prática, no contexto escolar e familiar.

A mudança começa em nós. Mas quem não tem em si essa chama precisa de um estímulo exterior que permita a combustão. É que, afinal, não temos todos o mesmo peso sobre a terra.