29 julho 2008

parte 1

Ela chegou a casa exausta de mais um dia cansativo. As discussões laborais, os excessos, os prazos apertados e os atrasos que há muito se haviam tornado rotina, arrastavam-lhe para o corpo o peso das semanas comuns.
- O trabalho é que estraga a vida às pessoas – costumava dizer em tom sério de quem brinca.
Os dias haviam perdido a magia da descoberta e o entusiasmo do crescimento pessoal para se limitarem a escassas tentativas de sobrevivência.
E aquela era apenas mais uma noite que se avizinhava apática, repleta de desconcertantes gestos mecânicos.
Os pés descalços guiaram-na ao canto do sofá, o lugar que institivamente adoptara como seu e só seu. As sandálias de saltos agulha que acabara de adquirir e que lhe feriam a alma a cada passo, repousavam a seu lado. Quis fazê-las desaparecer. Quis atirá-las janela fora na esperança vã de que a monotonia se lançasse em seu auxílio.
A mente começava a libertar-se das incógnitas da sociedade. Mas o peso sobre si permanecia intacto.
Fechou os olhos e julgou adormecer. Como se os sonhos a levassem para um jardim, talvez de delícias, onde a paz reinaria descomplicada.
- O trabalho é que estraga a vida às pessoas.

24 julho 2008

parte I

Olhava o mundo com os olhos de quem, inconscientemente, tem consciência de pouco saber. Olhava-o de uma outra perspectiva, por uma fresta que poucos pareciam conhecer.
O dia tinha sido igual a tantos outros. As horas passadas entre o repouso e a necessidade de se manter viva alteravam com os momentos de brincadeira que tantas vezes lhe eram roubados. No silêncio, magicava o fim da solidão que não tardaria a chegar. E aguardava pacientemente no confortável tapete que habitualmente lhe estava restrito.
Mas naquele dia algo se apresentava diferente. Uma porta aberta facilitara-lhe a tarefa de irromper na descoberta. E limitava-se agora a esperar, finda a agitação de quem alcança um objectivo há muito traçado. Limitava-se a esperar com a certeza de que pouco lhe restava.
Os outros costumavam dizer que a memória lhe costumava faltar. Que aparentava não dever muito à inteligência.
Mas, no fundo, o que tinha era apenas amor para dar. Amor, puro e simples, e gratidão.
Sabia que era amada. Sabia que faziam tudo por ela e pelo seu bem-estar.E, alheia à sua própria loucura, fazia tudo para retribuir.

14 julho 2008

back on the game

Prometi a mim mesma que regressaria às loucas e atribuladas viagens em prol de um bem maior chamado música. E estou de volta. Desta vez com o conforto do carro, a segurança do telemóvel e mais alguns tostões no bolso, mas de volta.
Prometi a mim mesma que não passaria mais um único mês sem usufruir de um bom concerto e eis que a promessa tem vindo a ser cumprida.
A minha tournée pessoal começou com os Linda Martini, no Rock na Ribeira, e prosseguiu com o grandioso concerto dos The National, no Optimus Alive, a que se seguiu The Hives (muito melhor em disco que ao vivo) e os incortonáveis Rage Against the Machine, também eles estrondosos.
O cartaz há-de continuar com a mistura entre o velho e o novo punk nacional, no Guadiana Fest, Editors, Mars Volta e Thievery Corporation, em Paredes de Coura, e José Gonzalez e Massive Attack, no Sagres Surf Fest.
Daí para a frente logo se vê.

09 julho 2008

E amanhã...

... vou estar ausente porque consegui credenciais para o Optimus Alive e vou zarpar daqui por uns dias.

coisas bonitas de se dizer

E hoje lembrei-me daquela que poderia muito bem ser considerada a maior declaração de amor de todos os tempos.
- Amor, baixas-me os níveis de açucar no sangue. Dás-me hipoglicémias.
Não é uma coisa bonita de se dizer? É romântico, não é?
Como não tinha nada de importante em que pensar entretive-me com estes devaneios.
Deu-me para isto. Vá-se lá saber porquê.

melancolia

E esta noite não tenho muito para dizer. Mas do pouco que me assola há um muito de extrema importância.
Em jeitos de resposta ao meu Raspelho, desejo ardentemente um regresso a casa.
Os jantares, as conversas de café, as risadas no Capitel ou os simples encontros do costume sabem “a voltar a casa”.
E é disso que hoje tenho falta. De voltar a casa. De sentir a cidade e tudo o que ela me desperta. De cheirar o ar que por lá se respira. De sentir o calor que transborda das almas alentejanas.
De estar. De chegar. De regressar. De voltar.
Hoje é só disso que preciso. Mesmo que tal aconteça apenas por escassos momentos.
Porque eles (ou vocês) me sabem a casa. E, principalmente, porque me sabem a mim.

07 julho 2008

conversa de amigos

- Ó, Lisa, tu sabes como é. Também és assim. Temos os dois personalidades muito fortes e isso, por vezes, torna difícil dividir espaço com outras pessoas.
(Sobre a relação quem tem vindo a ter com a namorada)
- Ó, Fernando, aquilo que nós temos não é personalidade forte. Desengana-te. Aquilo que nós temos chama-se feitiozinho de merda e não tem nada a ver com personalidade forte.
(Quem me dera que assim fosse).

04 julho 2008

diferenças importantes

- Qual é a diferença entre uma catástrofe e uma calamidade?
- Uma catástrofe é a Lisa a conduzir. Uma calamidade é a Lisa a conduzir e a cantar.
Que piada! Os meus amigos são tão queridos!

o que é pior que...

... sair da redacção (para onde fui de mini-saia e chinelo), pegar no carro, chegar a casa, tomar duche em 10 minutos, trocar de roupa, calçar umas sandálias de menina séria, tentar colocar em ordem todos os meus fios de cabelo desgrenhados, voltar a pegar no carro, chegar à Baixa de Faro ainda com 35 graus no lombo, cozer os pés de elefante que não estão habituados a apertos, assistir à inauguração de uma joalharia cujo anel da montra custa a módica quantia de 3.300 euros (sim, três mil e trezentos euros), aturar uma cambada de pindéricos e não beber nada porque anseio desesperadamente por um momento de fuga?
O que é pior que isto tudo junto?
É estar à espera que alguém se digne a vir falar comigo para me poder pôr a milhas e ver a passar na rua os tristes felizes que vêm da praia de bikini e calção.

01 julho 2008

devaneios de quem parece arranjar tempo a mais

Estes escassos momentos de lucidez só me servem para pôr em causa algumas das minhas crises existencialistas. E depois dá-me para isto. Para divagar. Sem com isso conseguir alcançar rumo algum.
Coloco a mim mesma as perguntas mais estúpidas. E dou a mim própria respostas ainda mais absurdas.
Continuo à procura do fundamento para a minhas estranhas fobias mas não consigo encontrar razões lógicas para o pavor de caracóis.
Não consigo também perceber por que durmo eu, durante todas as estações do ano, com os pés de fora, atenta à necessidade de um dia ter de saltar rapidamente da cama, sem que os membros se embrulhem nos lençóis.
Também não compreendo como pode o meu corpo ficar sistematicamente cravado de mosquitos se passo a vida rodeada por pessoas e coberta de repelente de insectos (acho que vou abdicar do uso de perfume já que o cheiro nauseabundo do repelente o acaba por abafar).
Continuamente estranho e despropositado é dar comigo própria a pensar em tudo o que não interessa quando existem eixos muito mais importantes sobre os quais devo reflectir.
E o cúmulo da estupidez é pôr-me a escrever, a estas horas pouco dignas, sobre estes devaneios.
Enfim, foi só um desabafo!