09 novembro 2017

novembro

Atrai-me a melodia que as letras produzem quando agarradas umas às outras. O abraço que desenham ao tomar corpo. O peso da própria palavra se desestruturada. Convicta e segura se completa. Instável se separada. Como se cada vocábulo entoasse a canção que Pink Floyd compôs. Together we stand. Divided we fall. Novembro.

Novembro despoleta uma dança silábica, erótica e sensorial, entre a língua e os lábios. Tango. Sedução, cedência, aproximação, ruptura. Repetição. Sem pressa ou atropelo, Novembro beija e repele. Novembro tem fim aberto. Suspiro que envolve e fascina. Novembro. NO-VEM-BRO.

Novembro tem firmeza e convicção. É sensual e dominante. Exuberante. Provocador e intenso. Novembro exibe-se. Alicia e corrompe de tão confiante. Novembro impõe-se. E revela-se altivo em cada uma das suas dimensões.

Novembro revestiu-se de arrogância quando o desafiei. E eu perdi. Ingénua, pu-lo em causa e, sedento de exuberância, ele atacou, silencioso. Atraiçoou-me. E eu perdi. Novembro chamou por mim e apunhalou-me. Agora castiga-me.

Novembro mutilou-me. Abriu-me fendas. Trouxe-me perdas. Ofereceu-me o vazio. E o vazio de Novembro pesa mais que o de todos os outros meses assentes uns sobre os outros. Novembro é um sádico. Abandona-me para se foragir. Mas volta, cíclico, cínico, trazendo-me as memórias e as amarguras dos abalos. Novembro...