15 setembro 2019

educação


 A Educação não transforma o mundo. Mas muda as pessoas. E as pessoas transformam o mundo” (Paulo Freire).
Há precisamente um ano aguardava o resultado da candidatura que havia feito ao mestrado em Desenvolvimento Comunitário e Empreendedorismo no Instituto Politécnico de Beja. Havia passado mais de uma década desde o término da minha licenciatura na Universidade do Algarve e a ideia de poder, finalmente, voltar a estudar entusiasmava-me.
No dia em que atravessei o portão para assistir à primeira aula vi-me novamente em frente à casa onde passei a infância, a pousar para a fotografia do meu primeiro dia na Escola Primária da Vidigueira. Era novamente a menina de franja que, com o caderno debaixo do braço, embarcava numa aventura que esperava ser maior que ela. A excitação era gritante. Sentia a leveza a empurrar-me os passos e a adrenalina a percorrer-me os poros. Estava verdadeiramente feliz. Voltar à universidade era sinónimo de conquista.
No dia em que ingressei no IPBeja firmei um contrato comigo mesma. Havia de usufruir daquela experiência em todo o seu esplendor. Volvido o percurso de aluna mediana no ensino secundário e na licenciatura, cruzava os dedos para que nada me fizesse perder o entusiasmo. A ausência de inspiração sempre me remeteu para o morno patamar da sobrevivência e esse é um lugar vazio e cinzento.
Porque a Educação é a mais poderosa de todas as armas, aprendi ao longo deste ano a reciclar energias. Aprendi a renovar a minha própria motivação. Aprendi a travar batalhas constantes sem perder o foco. Sem desviar a rota dos meus próprios objectivos. Sem baixar a cabeça. Sem descalçar as botas. Sem deixar de me agarrar às poucas vozes que se juntavam à minha a pedir que não desistisse.
Não perdi o entusiasmo mas os pés já não levitam. Arrastam-se. Estão pesados, cansados, feridos. Mas não se detêm. Começo a preparação da minha tese e, à semelhança dos desafios que tracei, ela é também pioneira. É arrojada e exigente. É excitante e desafiante. E a minha grande vitória é saber-me, apesar de todos os embates, de todas as tentativas de me fazer recuar e desistir, capaz de a executar.
Porque a Educação é a mais poderosa de todas as armas, hoje sei que a instituição de ensino que escolhi para me educar me assediou, me discriminou, me negligenciou enquanto aluna. Porque a Educação é a mais poderosa de todas as armas, vi os organismos que me deveriam proteger a encarar-me com desdém, a desacreditar-me, a desestabilizar-me, a levar-me à exaustão. Não verguei.
Enquanto instituição de ensino superior, que se deveria reger por padrões de rigor, transparência, competência, igualdade de tratamento e justiça, o Instituto Politécnico de Beja falhou comigo. Da Coordenação à Presidência, todas as instâncias falharam comigo. Todas elas, sem excepção, me negaram direitos essenciais. Todas elas, sem excepção, foram incompetentes no desempenho das suas funções. Todas elas, sem excepção, optaram por ignorar-me e fechar os olhos perante os factos.
Sim, o Instituto Politécnico de Beja falhou comigo. E falhar comigo é também falhar com todos os que contribuem, através de impostos, para a defesa de um sistema de ensino que promova a Educação e a Cidadania. Falhar comigo é falhar com o futuro e com o território.
O Instituto Politécnico de Beja assediou-me, discriminou-me, negligenciou-me. Falhou repetida e propositadamente comigo. E falhar comigo é deturpar os princípios básicos que justificam a sua existência.
Porque a Educação é a mais poderosa de todas as armas, hoje reconheço-me como vítima. De um crime que é punível por lei. E, precisamente pelo mesmo motivo, sou dotada de todas as ferramentas que me permitem lutar contra esse estatuto.
Porque a Educação é a mais poderosa de todas as armas, sou, apesar de toda a pressão e injustiça, a melhor aluna que já passou por aquele mestrado e estou hoje capacitada o suficiente para fazer frente ao sistema.