07 outubro 2018

nojo

Portugal enoja-me. Dá-me vómitos. É sujo. Pútrido. Decadente. Portugal fede. E os portugueses têm exactamente o país (de merda) que merecem. Porque a impunidade parece não se ter aqui feito sentir, os portugueses têm (exactamente) o que merecem.

O patriotismo causa-me náuseas. Revolta-me o estômago. Faz-me ter vontade de estripar o peito, não vá o mal propagar-se geneticamente. Portugal envergonha-me. Mas, se o país me causa repulsa, as suas gentes amedrontam-me.

Na mesma semana, as pseudo-feministas - iluminadas subitamente pelas sólidas correntes de pensamento facebookianas - decidem que a melhor forma de luta contra a violência doméstica é um (também ele pseudo) apagão feminino para se erguerem depois em uníssono na defesa do menino de ouro, acusando a grandessíssima puta que lhe quer extorquir uns tostões de uma campanha de marketing pessoal feita à custa (adivinhem!) de uma agressão sexual.

Ainda na mesma semana, as mesmas pseudo-femininistas continuam a publicar os grandes planos das (quiçá também elas pseudo) mamas numa ode aos últimos dias de Verão, elegendo depois, como trunfo, o facto de a menina não ter ido com ele para o quarto de arma apontada à cabeça. É que, de acordo com a iluminada linha de pensamento das amebas, se uma mulher vai com um homem para o quarto quer, claramente, ser alvo de violação. E se casa com um homem então aceita, prontamente, levar, amiúde, uns murros no focinho e uns pontapés nas trombas. Mas atenção aos comentários às fotos das minhas mamas. Eu queria era mostrar o pôr-do-sol lá atrás e é nisso que se devem focar.

No fundo, o índice de indignação reside em factores de ordem estética e financeira. É que o taxista João Máximo é velho, gordo e sebento. Um criminoso, por dizer que as meninas virgens servem para ser violadas. E Cristiano – o maior símbolo da grandeza nacional – joga à bola e ganha milhões. Uma vítima, injuriada, caluniada. Grandessíssima puta que se fartou de rir e dançar com ele. Sentenciamo-lo, sem questionar, a uma veemente inocência porque é esse o nosso papel enquanto portugueses.

Em dia nenhum fomos as 21 mulheres, mortas entre 1 de Janeiro e 12 de Setembro de 2018, por violência doméstica. Em dia nenhum fomos as 2.158 vítimas de crimes sexuais, registados pela APAV entre 2013 e 2016. Mas hoje somos todos Ronaldo. Porque o nosso patriotismo – acéfalo – é esse mesmo.

Calhando agora vamos todas à igreja acender uma vela pelas crianças vítimas de abuso sexual. Às mãos da igreja católica. Ou comprar o livro da Paula Bobone. Porque para pôr fim ao bullying basta que as crianças sigam para a escola de banho tomado e cabelo alinhado.

Obrigada, mundo, por não me fazeres ter vontade nenhuma de propagar a (vossa) espécie.