13 dezembro 2012

piano


Fecho os olhos e lá estás. Consigo ouvir-te a invadir, de mansinho, o silêncio. Consigo ouvir-te a embalar-me. A envolver-me os medos e as agonias num tecido de veludo. A sufocá-los sem dor ou tumulto. A arrancá-los de mim sem deixar vazio.

Consigo ouvir-te a reinventar-me os sonhos. A escrevê-los em forma de música. A dar-lhes tom e ritmo. Balanço. Compasso. E fôlego. E ânimo. E asas. Consigo ouvir-te a levá-los para longe. A inverter a viagem que os separa da realidade.

Ouço-te ainda baixinho. Os dedos ágeis. A dança. A rua a afunilar-se até só existires tu. A imagem desfocada de tudo o que se estende para lá da moldura. O frio a derreter-se a cada uma das notas. O calor que se adensa por dentro. A alma a libertar-se do corpo e a abandonar o chão. A leveza. Flutuo. O mundo como o conheço a refugiar-se e a dissolver-se. A paz. Já não estou onde me deixaram. Não cheguei sequer a fugir.

E enquanto tocas desenhas magia no ar. Enfeitiças-me. E eu voo. Voo. E há fantasia. E sedução. E mistério. E curiosidade. E imaginação. E chamas. E fogo. E eu ardo e embarco na jornada.

Quem és tu? Não pares. Dá-me vida.

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