29 novembro 2012

aterragem

A primavera sabia, de noite, já a verão. Cheirava a enigma e soprava mistério. Eu tinha alvoroços dentro do peito. Fantasmas desassossegados a entrar e a sair. A entupir-me a vista. Tinha vontades com pressa a esventrar-me a coerência. Caos sem rédeas a empurrar-me os passos. E o ruído que não se calava…

Há dias em que não estou bem em lado nenhum!

Talvez fosse o cheiro do mar. Ali tão perto. Selvagem. Indomável. Tentador. Eu tinha insónias e tumultos. Tinha tempo vazio. Ar oco. Pés inquietos. Liberdades encarceradas por dentro a forçar-me os ossos. A fazer exigências.

Há noites em que sufoco dentro de mim!

Era madrugada. E eu entrei sem sono. Duas mãos cheias de curiosidade. Imaginação. Um corpo inteiro a mendigar desordem. Ai! Afinal, o céu não é assim tão longe. Apanhei o voo. Embarquei e o mundo mudava nas ondas do cesto de um balão. Deixei-me levar, sem saber que, à aterragem, o chão teria um piso diferente.

Sabia lá eu que o amor era coisa para durar tanto tempo!

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