13 março 2010

fio

Não tenho um plano meticulosamente traçado. Não tenho um destino. Não tenho passos pensados e medidos que me levem a alcançá-lo. Não pondero os caminhos que cruzo. Não tenho metas à minha espera. Não procuro incessantemente a ponta do arco-íris onde se esconde a realização e a, talvez consequente, felicidade.
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Vagueio, anárquica, pelos dias. Ultrapasso-os sem dor e sem esforço. Sem pensar que estou mais próxima do final ou mais distante do arranque. Estou aqui. Hoje é aqui que estou.
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Não tenho um itinerário ou uma cruzada. Tenho uma paisagem que muda de cor e de forma a cada instante. E usufruo dela, sem me deter, consciente da sua mutabilidade. Será vago ou convincente?
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Iço-me à austeridade dos cumes na mesma leveza com que me atiro ao mistério dos abismos. Muda tudo tão depressa nesta sucessão de socalcos!
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Absorvo a euforia das serras e a degradação dos vales. Não quero permanecer em nenhum dos dois. Não sei permanecer em nenhum dos dois. Atravesso-os em padrões esporádicos de tempo. Sem fomentar raízes. Sem deixar marcas. Sem mudar a lógica, pouco imprevisível, do vaivém.
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Nesta ausência fortuita de objectivos, apregoo o intuito de ser este o meu propósito. Viver constrariando as regras que ensinam a fazê-lo.

2 comentários:

Lígia Moreira disse...

Eu vejo-me nesse texto, sou eu própria ao sabor do vento, sou o agora, cada minuto e segundo que passo. Sou o sabor da minha lingua, sou o meu eu verdadeiro dos pés a cabeça. Gostei do texto, maravilhoso como sempre!

Fica bem!
Lilly//*

LiSa disse...

Obrigado, Lilly.
O que era do mundo sem os vagabundos?

Abraço.