Sempre fui uma miúda de sorte. E sempre o soube. E ter sorte é ter encetado um livro em branco. Ter sorte é ter preenchido páginas e páginas que se mantinham vazias. Ter sorte é ter inventado palavras inexistentes. Ter sorte é ter escrito uma história.
Ter sorte é tê-la escrito a duas mãos. Ter sorte é tê-lo feito com aparas de loucura, tinta de euforia e carimbos de felicidade. Ter sorte é ter afastado o medo. Ter sorte é não ter hesitado. Ter sorte é ter-te tido a meu lado.
É termos trilhado caminhos virgens. Descoberto universos imaginários. Percorrido estradas ocultas. Ter sorte é termo-nos aventurado. É termos ousado crescer. Com ganas de viver a vida.
Ter sorte é termos vencido. E vencemos porque ocupámos com uma amizade o recanto onde outrora vivemos um grande amor. E vencemos porque preenchemos com gestos maiores os vazios que fomos somando nas encruzilhadas. E vencemos porque tivemos a capacidade de nos reencontrar. Para seguirmos juntos caminhos opostos. Vencemos. Eu e Tu. Vencemos.
Havemos de escrever novos livros. Pintar outras páginas. Explorar novos trilhos. Havemos de crescer. De viver. De ilustrar outras histórias.
Mas aquela que iniciámos, há muitos anos, e que, um dia, julgámos ter chegado ao fim há-de ter novas letras e novas palavras – redesenhadas, redistribuídas, recriadas com novos alentos.
Porque ter sorte não é saber que questionas as minhas decisões ou motivações. Ter sorte é sentir o teu braço a apoiar o meu. Mesmo que à distância.
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