Houve um dia em que acharam que eu precisava de ser salva. Houve um dia em que acharam que eu era um desafio maior do que qualquer outro. Retirar do abismo e das teias da solidão uma rapariguinha frágil e insegura. Era esse o excitante objectivo pelo qual valia a pena arregaçar mangas e abrir caminhos. Porque, aparentemente, seria compensado. Era esse o motivo de luta que, cumprido, saberia melhor que qualquer outro. Missão impossível levada aos limites da força humana.
A história é bonita. As personagens, supostamente, interessantes. O guião… Esse é tão ridículo quanto irreal.
Talvez um dia me dê ao trabalho de explicar. Talvez um dia encontre paciência, disposição e vontade para elucidar mentes sonhadoras e embevecidas. Talvez um dia descubra as palavras exactas com que construir a frase perfeita, tão certeira que não tenha de voltar a repetir o seu conteúdo.
Longe de mim ser uma rapariguinha frágil e insegura. Longe de mim precisar que mãos algumas me prendam quando quiser saltar. Mas longe de mim pensar sequer em fazê-lo.
A solidão é um estado natural. O meu, pelo menos. Mas longe dela atormentar-me, aprisionar-me, sufocar-me. A solidão é companheira. É abrigo. É refúgio. É conforto. E ser uma pessoa solitária não implica que me sinta, necessariamente, só.
Pobres dos que julgam que me salvarão. Pobres dos que não têm olhos que alcancem mais do que o que a vista vê. Pobres dos que são tão egocêntricos que não se dão conta das suas ilusões.
Sugo cada um dos instantes da minha existência. Absorvo cada um desses momentos – os bons e os maus -,porque todos eles acrescentam algo de novo ao pouco que sei. E sim, também tenho dias de ausência, de antagonismo, de pouco alento. Porque, como todos os seres que dividem comigo este canto do mundo, sou humana.
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