18 dezembro 2009

puzzles

Sou assumidamente uma pessoa obsessiva, que tende a pender para pólos opostos em intervalos de tempo tendencialmente curtos. Sou obsessiva, obcecada, roçando com alguma frequência o paranóico. Organizo-me coerentemente no caos. Vivo num caos repleto de lógica. Uma lógica tão lógica que apenas a mim faz sentido. E é esse o seu único propósito.

Sou obsessiva, obcecada. Chego a ser paranóica. Sou obsessiva quando me apaixono ou reapaixono por uma música. Ouço-a até à exaustão. Consumo-a até ao esgotamento. Absorvo-a até a detestar. Depois só regresso a ela quando esquecida a consequente sensação de intolerância à sua melodia.

Sou obcecada por malas. Adquiro-as de forma quase esquizofrénica. Uma de cada vez. E gasto-as até esgotar todos os vértices de tecido. Depois abandono-as numa gaveta que não voltarei a abrir durante meses.

Sou paranóica com objectos aparentemente insignificantes, dos quais não me consigo afastar. Num ataque exclusivo de sanidade pura e simples despejei o pedaço de mundo que carrego pendurado a tiracolo num só ombro. Encontrei peças variadas. Umas quantas absolutamente indispensáveis. Outras absurdamente necessárias. Entre elas figurava uma carteira atulhada de documentos tão importantes como talões de supermercado, recibos de multibanco, horários de transportes que nunca irei utilizar, cupões de desconto de iogurtes de que não gosto e palavras-passe de coisas que não me lembro o que são. Depois havia também uma máquina para medir a glicemia, um estojo com duas canetas de insulina, um saco com pacotes de açúcar, um maço de tabaco, dois isqueiros sem gás, um isqueiro funcional, um bloco de notas, um livro, um io-io de madeira, as chaves de casa, o leitor de mp3, quatro esferográficas que conhecia, uma esferográfica que não conhecia e um suporte para panos de cozinha. Sim, um suporte, daqueles de plástico, para pendurar panos na cozinha ou noutro sítio qualquer onde eles façam falta.

Esqueci todos os objectos extremamente necessários que me foram parar à mala por vontade própria. Foquei-me apenas nos dois únicos que não foram lá colocados por mim.

Percebi depois que, quer a caneta desconhecida quer o suporte para panos de cozinha me tinham sido oferecidos pela mesma pessoa, numa noite longínqua sem pretensões de amanhã. Por que me ofereceria alguém uma caneta usada e banal? Por que me ofereceria alguém um suporte em forma de gato para pendurar panos na cozinha? A resposta…. essa só eu a sei.

Uma coisa é certa. Aquela noite longínqua continuará sem amanhã. Outra coisa é também certa. Aquele suporte jamais servirá para pendurar panos na cozinha. A par com a dita caneta, é uma memória física daquela noite que ficou lá atrás. Longínqua. Sem amanhã.

4 comentários:

Particle disse...

Bolas!!!
Afinal, qual é o tamanho dessa bolsa?
Arranja um canivete suíço...ao menos ficas mais a parecer o McGyver.

LiSa disse...

Ah, e ainda me esqueci do batom, do maço de lenços de papel, dos óculos graduados e dos óculos de sol.
A minha mala é um mundo...

Anónimo disse...

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semelokertes marchimundui

Vr disse...

Mala????
Aquilo não é uma Mala, aquilo é um Malão Enorme por dentro, e pequenina por fora.
Não consegue fecha-la, mas tem tudo lá.
Tem lá dentro mais coisas que eu na minha quando saimos pra reportagem.
Jocas
Vr