24 janeiro 2008

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Hoje, por breves momentos, resolvi deixar o mundo dos outros para abraçar apenas o meu. Num acto efémero de busca de mim própria. Ou de outra coisa qualquer.
Peguei no carro e deixei que fosse a lua a conduzir-me. Levou-me a um sítio conhecido, outrora refúgio das minhas inquietações. Sentei-me na areia e deixei que o mar me levasse os pensamentos. As incógnitas. As reticências.
Sentei-me na areia e voltei a senti-la. Voltei a sentir. Por lá permaneci horas a fio. E aguardei, paciente com a minha impaciência.
Deixei que o turbilhão desordeiro que me consome se esvanecesse. Para ficar apenas eu. Comigo própria. Na ânsia de me agarrar.
Espero que estes instantes se voltem a repetir.

08 janeiro 2008

não há falta que não dê em fartura, diz o outro

Olhão iniciou, no passado sábado, as comemorações dos seus 200 anos de passagem a vila. Hoje cidade. O dia começou com pequenos passeios pela Ria Formosa no caíque Bom Sucesso, o barco que em 1808 levou um punhado de olhanenses ao Brasil.
As principais ruas da cidade receberam a arruada da banda 1º de Dezembro. Os mercados foram palco das actuações das Charolas de Bias, Cavacos e Quelfes. E só por volta da hora de almoço, o senhor presidente procedeu à sessão solene de abertura das comemorações. Sempre em boa hora.
Pela tarde, a baixa da cidade ganhou alguma vida com animação de rua. Mas, como sempre, nem tudo são rosas. A autarquia quis comemorar a data em grande, promovendo uma série de actividades a decorrer em simultâneo.
Resultado: entre as praças ouvia-se jazz. Um pouco mais à frente, charolas no coreto. Cinquenta metros depois, uma banda de covers com um repertório sem nexo. Quem se aproximava da baixa da cidade não conseguia ouvir nem jazz, nem charolas, nem outra coisa qualquer.
Restou o dia cinzento que acabou por cobrir o céu (por que terá sido?!) e o emaranhado de actividades às quais o público não conseguiu responder.
Como dizia um amigo, não há falta que não dê em fartura.

04 janeiro 2008

esquisitices

Pára a esquisita no meio da rua. E olha para trás com um estranho ar de fascínio. De surpresa. De espanto. E de reprovação.
Pára a esquisita no meio da rua. E olha para a outra esquisita. Não, não é a de cesta na cabeça. Não, também não é a dos cães. É a outra. Uma nova. Aquela de roxo. Aquela que se assemelha à bruxa da pequena sereia que a Disney tão bem descreveu. Sim, essa mesmo.
A esquisita pára e fica a olhar para a outra esquisita. A esplanada pára também, por momentos. As conversas ficam inacabadas. Os cafés arrefecem nas chávenas. Os cigarros queimam com restas de oxigénio. Para depois tudo voltar à normalidade.
A esquisita parou na rua e ficou a olhar para a outra esquisita. E espantou-se por ver mais alguém diferente.
São efemérides dos dias comuns.

03 janeiro 2008

promessas, promessas...

Este ano optei por não prometer nada. Por ainda ter por cumprir a única promessa que fiz o ano passado.
Resolvi tornar-me uma pessoa mais regrada. Mais saudável. Então, palmilhei todos os ginásios da cidade onde habito. Pretendia voltar a fazer desporto. Cuidar mais da saúde. E perder alguns quilinhos.
- "Ah, essas bolas de gordura nas ancas desaparecem num instante naquelas máquinas", disse-me o dono daquele pseudo-centro de estética, enquanto me olhava de cima a baixo.
- "E as pernas. Vocês precisam de delinear as pernas", continuou, alheio à minha cara de desagrado. Voltou a olhar-me de cima a baixo. E a dar a volta para ver melhor.
- "Sim, nas máquinas isso sai tudo", repetiu.
Mas eu lá tenho bolas de gordura nas ancas?! E as penas, qual o mal das minhas pernas?! Dei meia volta e sai porta fora. Lá se vai novamente a promessa do ano passado.
Para compensar o desgosto de ter alguém a chamar-me gorda, resolvi jantar duas sandes de atum com maionese. Que se lixem as promessas.