“A Educação não transforma o mundo. Mas muda as pessoas. E as pessoas
transformam o mundo” (Paulo Freire).
Há precisamente um ano aguardava o resultado da candidatura que havia
feito ao mestrado em Desenvolvimento Comunitário e Empreendedorismo no Instituto
Politécnico de Beja. Havia passado mais de uma década desde o término da minha
licenciatura na Universidade do Algarve e a ideia de poder, finalmente, voltar
a estudar entusiasmava-me.
No dia em que atravessei o portão para assistir à primeira aula vi-me
novamente em frente à casa onde passei a infância, a pousar para a fotografia
do meu primeiro dia na Escola Primária da Vidigueira. Era novamente a menina de
franja que, com o caderno debaixo do braço, embarcava numa aventura que
esperava ser maior que ela. A excitação era gritante. Sentia a leveza a
empurrar-me os passos e a adrenalina a percorrer-me os poros. Estava
verdadeiramente feliz. Voltar à universidade era sinónimo de conquista.
No dia em que ingressei no IPBeja firmei um contrato comigo mesma. Havia
de usufruir daquela experiência em todo o seu esplendor. Volvido o percurso de
aluna mediana no ensino secundário e na licenciatura, cruzava os dedos para que
nada me fizesse perder o entusiasmo. A ausência de inspiração sempre me remeteu
para o morno patamar da sobrevivência e esse é um lugar vazio e cinzento.
Porque a Educação é a mais poderosa de todas as armas, aprendi ao longo
deste ano a reciclar energias. Aprendi a renovar a minha própria motivação.
Aprendi a travar batalhas constantes sem perder o foco. Sem desviar a rota dos
meus próprios objectivos. Sem baixar a cabeça. Sem descalçar as botas. Sem
deixar de me agarrar às poucas vozes que se juntavam à minha a pedir que não
desistisse.
Não perdi o entusiasmo mas os pés já não levitam. Arrastam-se. Estão
pesados, cansados, feridos. Mas não se detêm. Começo a preparação da minha tese
e, à semelhança dos desafios que tracei, ela é também pioneira. É arrojada e
exigente. É excitante e desafiante. E a minha grande vitória é saber-me, apesar
de todos os embates, de todas as tentativas de me fazer recuar e desistir, capaz
de a executar.
Porque a Educação é a mais poderosa de todas as armas, hoje sei que a
instituição de ensino que escolhi para me educar me assediou, me discriminou, me
negligenciou enquanto aluna. Porque a Educação é a mais poderosa de todas as
armas, vi os organismos que me deveriam proteger a encarar-me com desdém, a
desacreditar-me, a desestabilizar-me, a levar-me à exaustão. Não verguei.
Enquanto instituição de ensino superior, que se deveria reger por padrões
de rigor, transparência, competência, igualdade de tratamento e justiça, o
Instituto Politécnico de Beja falhou comigo. Da Coordenação à Presidência,
todas as instâncias falharam comigo. Todas elas, sem excepção, me negaram
direitos essenciais. Todas elas, sem excepção, foram incompetentes no
desempenho das suas funções. Todas elas, sem excepção, optaram por ignorar-me e
fechar os olhos perante os factos.
Sim, o Instituto Politécnico de Beja falhou comigo. E falhar comigo é também
falhar com todos os que contribuem, através de impostos, para a defesa de um sistema
de ensino que promova a Educação e a Cidadania. Falhar comigo é falhar com o
futuro e com o território.
O Instituto Politécnico de Beja assediou-me, discriminou-me,
negligenciou-me. Falhou repetida e propositadamente comigo. E falhar comigo é deturpar
os princípios básicos que justificam a sua existência.
Porque a Educação é a mais poderosa de todas as armas, hoje reconheço-me
como vítima. De um crime que é punível por lei. E, precisamente pelo mesmo
motivo, sou dotada de todas as ferramentas que me permitem lutar contra esse
estatuto.
Porque a Educação é a mais poderosa de todas as armas, sou, apesar de
toda a pressão e injustiça, a melhor aluna que já passou por aquele mestrado e
estou hoje capacitada o suficiente para fazer frente ao sistema.
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