Atrai-me a melodia que as letras produzem
quando agarradas umas às outras. O abraço que desenham ao tomar corpo. O peso
da própria palavra se desestruturada. Convicta e segura se completa. Instável
se separada. Como se cada vocábulo entoasse a canção que Pink Floyd compôs. Together
we stand. Divided we fall. Novembro.
Novembro despoleta uma dança
silábica, erótica e sensorial, entre a língua e os lábios. Tango. Sedução,
cedência, aproximação, ruptura. Repetição. Sem pressa ou atropelo, Novembro
beija e repele. Novembro tem fim aberto. Suspiro que envolve e fascina.
Novembro. NO-VEM-BRO.
Novembro tem firmeza e convicção.
É sensual e dominante. Exuberante. Provocador e intenso. Novembro exibe-se. Alicia
e corrompe de tão confiante. Novembro impõe-se. E revela-se altivo em cada uma
das suas dimensões.
Novembro revestiu-se de arrogância
quando o desafiei. E eu perdi. Ingénua, pu-lo em causa e, sedento de
exuberância, ele atacou, silencioso. Atraiçoou-me. E eu perdi. Novembro chamou
por mim e apunhalou-me. Agora castiga-me.
1 comentário:
Já a memória me atraiçoa, e não sou capaz de recordar quem escreveu: "O grande escritor é aquele que se supera a si próprio, página a página, capítulo a capítulo, obra a obra". Também, aqui, se poderia dizer: Post a post, mês a mês, ano a ano.
Se me não engano, este texto, se aquando da publicação das suas Obras Completas fôr respeitado um critério mais biográfico que cronológico, será colocado entre "Impludo" e "Castigo", ou por aí perto, não é?
Mas por quê tanto castigo auto-inflingido, tanto tempo depois? Foi tão grave assim? Dá vontade de lhe lembrar: "Há mais vida para além de... disso, seja lá o que fôr".
Por que não, em alternativa, ver ou rever um filmezinho cândido e inocente como "Sweet November"? O argumento não vale nada, de tão banal; ele, o canastrão, também não vale nada, sempre igual. Mas ELA, uma deliciosa e ainda jovem Charlize Teron (sim, a mesma fera de "Road of Fury")surge aí calçando umas botifarrazinhas portadoras do mais poderoso efeito de sugestão erótica. Vá-se lá saber porquê. Eu, pelo menos, posso comprová-lo, mas ainda não consegui compreender onde reside, de onde emana, esse poder de umas simples botas de meio-cano. Claro que tenho uma teoria muito pessoal, mas não me satisfaz. Ainda estou à espera de quem mo explique.
Enquanto espero,
com amizade.
(se calhar, apenas estive para aqui a falar do que não sei)
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