12 outubro 2012

tropeço


É a vida a pôr-me outra vez um pé à frente. A ferir-me outra vez as canelas, numa dor acutilante que se alastra à profundidade do corpo. É a vida a impedir-me de seguir em frente, pelo caminho a que me entreguei. A furar-me o mapa dos intuitos e das vontades. A deixar-me perder.

É a vida a fazer-me parar e repensar os passos. A obrigar-me, outra vez, a uma estagnação forçada, que sabe sempre à amargura do recuo. E eu sem trunfos para trocar as voltas ao jogo…

São os outros a apressar-me a partida, sem que eu tenha tido tempo de me habituar à chegada. São os outros a forçar-me a mudança, quando estou ainda certa de querer ficar. É o vento que sopram a arrancar-me do chão a bagagem, inibindo as raízes de crescerem.

Sou eu a questionar-me e a pôr-me em causa. Outra vez. Como se a culpa fosse parte de mim. É a impotência e o desânimo a esconderem, sem aprumo, a desilusão que me domina e atormenta. É o cheiro a injustiça a impregnar-se nas veias e nos poros. São as insónias a roubar tempo à noite. E o silêncio a enganar a revolta.

Sou eu com vergonha de mim e da minha ingenuidade. Sou eu a deixar as esperanças caídas por onde passo. E a carregar no peito um pedaço ainda maior de vazio.

1 comentário:

Anónimo disse...

Os teus olhos dzem-me verdades completas. As tuas palavras e os teus olhos fazem-me pertencer-te.