01 fevereiro 2011

aurora

Ouço cá de dentro o latir incómodo que deturpa as ruas lá fora. Sei que é já madrugada. Escuto os uivos dos vagabundos perdidos na solidão fria das calçadas. Caminhando à luz gasta de um céu redentor de agonias e cansaços. Rendidos à melancolia que afaga e distancia o que foi do que ainda virá.

.

Sei que os loucos vagueiam nestas madrugadas, sugando-lhes a vida, alimentando-se dos despojos da cidade que já dorme e lavrando de murmúrio o silêncio.

.

Descalça de aconchegos não procurei naquela madrugada um vazio que perdurasse mas um ímpeto de curiosidade, tão irreflectido quanto genuíno. E, tal como eles, parti no negrume decadente de uma noite com um amanhã tardio. Negligenciei amarguras e fantasmas. Amordacei temores e terrores. Como o sangue a usurpar consciências, fui trilhando mais um pedaço desta história.

.

Talvez tenha adormecido ao raiar do dia. Porque hoje o tempo parece ter outra dimensão.

Sem comentários: