04 outubro 2010

outono

Já chove. Já cheira a terra acabada de molhar. Já voam longe as andorinhas. Adormece cedo o Sol. E o céu, esse, ainda altivo, ditador e imponente, esconde-se, misterioso e imprevisível, na neblina. Espreita-me. Como eu a ele, interrogativa e inquiridora.
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Com a força da água escorre em mim a partida, inverosímil, de uns e a fixação, convicta, de outros. Eu estagno. Estanco-me. Conservo-me. Assisto impávida à sucessão dos dias, numa dinâmica exterior que me atinge e me trespassa sem criar cicatrizes ou deixar marcas.
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O campeonato muda e eu desço de divisão. Não integro a liga dos profissionais e descaio da dos amadores. Mantenho-me à margem.
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Guardo os sonhos em caixinhas e arrumo-os em prateleiras. Os que assumo separados dos que oculto. Os passíveis de concretização. E os outros. Todos os outros. Deixo-os repousar na Primavera porque o Outono se avizinha possante e os meus esforços andam débeis. É a menina novamente a puxar-me as saias e a reconfortar-se no isolamento. Caminha ainda comigo. Mas eu ando por aqui imóvel. Como poderia correr, estática, num outro sítio qualquer.
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Não sou já o que fui. Nem ainda o que quero ser. Agora que posso fazer tudo, o que quero eu fazer?

2 comentários:

Anónimo disse...

Benvinda á minha vida

Anónimo disse...

Benvinda á minha vida