18 janeiro 2010

estupidez

Estupidez. É ter avariado, logo pela manhã e sem qualquer razão aparente, o leitor de MP3 que me ofereceram a semana passada.
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Estupidez. É ter passado oito horas no trabalho a fazer telefonemas tão aborrecidos quanto inúteis e chegar ao final do dia sem perceber por que razão estou precisamente no mesmo ponto em que comecei.
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Estupidez. É sair cansada com o caminho delineado até casa e parar num daqueles espaços comerciais de estrangeiros tão terceiro mundistas quanto aliciantes.
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Estupidez. É não gostar de usar leggings desde os oito anos de idade e ter decidido comprar umas. Pretas. As únicas que existiam e que, miraculosamente, não salientavam a meia lua que se instalou no meu ventre outrora delicado.
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Estupidez. É doerem-me as costas de tantas horas passar sentada no chão da sala.
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Estupidez. É ter devorado uma fatia de salame e subitamente me ter lembrado que deveria fazer desporto. Nesse exacto momento.
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Estupidez. É vestir as amaldiçoadas leggings e sair de casa cheia de energia. É ter estado sol o dia todo e começar a chover assim que o meu corpinho pouco delineado passa a ombreira da porta. É uma irritante amostra de cão me ter mordido. É o estúpido do animal me ter rasgado as estúpidas das leggings novas que nunca devia ter adquirido. É olhar para o relógio na ânsia de já terem passado os minutos suficientes para a prática diária de exercício físico. É ter regressado a casa apenas 720 segundos depois de ter saído. É chegar com o coração a saltar-me do peito, a alma a contrair-se de vergonha, as leggings rasgadas, a usual dor nas costas à qual se junta agora um cansaço extremo nas pernas. É ter comido uma sandes mista enquanto cozia os legumes para uma salada levezinha.
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Estupidez. É estar aqui, derrotada, a lamentar-me das dores e do desgaste, em vez de escrever o guião do programa de televisão que, imperetrivelmente, tenho de gravar nas malfadadas terças-feiras.

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