Não me lembro quanto tempo passou desde a última vez. Um dia deixei de contar os dias. Dias depois deixei de saber quantos haviam passado. Mas hoje voltei a fazê-lo. Ganhei coragem. E voltei a fazê-lo.
Diminuí a intensidade da luz. Quis esconder-me na penumbra da casa quase às escuras. Corri as cortinas. Fechei as janelas. Pousei, por instantes, os dedos frios sobre as pálpebras. Ouvi o silêncio lá fora. E cá dentro um palpitar desenfreado no peito. Só depois entreabri os olhos. Agarrei-me às réstias de coragem que ainda carregava. E aos poucos fui arrancando cada peça de roupa do corpo. Despi-me lentamente, cuidadosamente, ainda tímida, insegura. Soltei as alças. Desabotoei os botões. Deixei cair no chão tanto os tecidos como a bravura. Fiquei imóvel. Ali. Nua. Imóvel. Ali. Frente a mim. Nua. Imóvel.
Levantei o rosto do chão e olhei, por fim. Olhei-me ao espelho. Enfrentei-me ao espelho. Observei-me ao espelho. Encarei-me ao espelho. Olhei-me de um lado e do outro, quando consegui reconhecer, por uma fresta, aquilo que fui. Observei-me de um lado e do outro. E não me conheci.
Não me lembro quanto tempo passou desde a última vez. Um dia deixei de contar os dias. Dias depois deixei de saber quantos haviam passado.
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