14 agosto 2009

hoje

Arranha-se a pele com as unhas partidas pela tormenta. E rasga-se a carne, ferida mais por dentro que por fora. Cerram-se os dentes, que rangem num silêncio ensurdecedor. E ouve-se, mais uma vez, as palavras monocórdicas repetidas, vezes sem conta, em uníssono. Fora de ordem estão os pedaços de ser que, um dia, foram um todo.
Há pensamentos despedaçados. Memórias fulminantes. Vazios infindáveis. E certezas que teimam em fazer-se distantes. Há um corropio de destroços que se abraça. E pontas que caminham desalinhadas. Soltas. Perdidas.
Dancei no fio de uma navalha. E lambi a ferida que há ainda por cicatrizar nesta encruzilhada.
Hoje há espaço para correr sob o sol mas apenas destroços que se arrastam inquietantes.

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