22 maio 2009

poema do português errante

E para me redimir daquilo que disse da poesia do Manuel Alegre, segue aqui um dos poemas de que gostei. Sim, porque nem toda a escrita lírica do homem é má.
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"Por um caminho à noite caminhava
caminhava de noite sem sentido
pela própria cadência era levado
caminhava movido por um ritmo
a música interior que mais ninguém
ouvia. Caminhava de noite e não sabia
sequer o rumo e o sentido. Nem
a rosa dos ventos e os pontos cardeais
nem Cruzeiro do Sul nem bússola nem estrela.
Caminhava por caminhar. Apenas
por um íntimo impulso um movimento
irreprimível do seu próprio pensamento.
Ou nem sequer. Talvez não fosse
senão a própria marcha. Um corpo
avante. Um corpo em seu mistério caminhante
não mais que um corpo em marcha no caminho
ninguém sabe se certo se perdido.
E só se ouvia o som do seu arfar
e não havia aliás outro sentido
senão o de caminhar por caminhar."

1 comentário:

Raspelho disse...

Por culpa deste post lembrei-me de um poema do Alegre que me toca profundamente. É dos seus tempos de revolucionário, e talvez como muitos outros, hoje o autor já não se reveja no que escreveu há tantos anos.
A trova do vento que passa é dos poemas musicados mais lindos que conheço. Antes mesmo que vir para Coimbra. Mas depois de cá estar, e por muito clichê que pareça, choro como uma menina pequena quando o oiço cantado por um estudante de capa e batina.