Observo-a da varanda de casa, despertada pela voz suave que irrompe da rua entoando cânticos de amor lançados na escuridão. Observo-lhe as calças justas, a blusa curta e as sandálias de salto a condizer. Observo-lhe o aprumo da vestimenta encarnada que sobressai na monotonia e a forma descontraída com que agita a cabeça, fazendo rolar sobre os ombros as longas madeixas de cabelo preto.
Observo-lhe o pontapear das pedrinhas da calçada e a calma inquietação de quem parece nada temer.
-Hey, dear! – exclama ao sinal da minha presença. Lanço-lhe um sorriso e despeço-me com o piscar duplo de olhos que costumo lançar a quem me acarinha.
Prossegue solitária pela rua, àquela hora ainda vazia de agitação. Um dois, um dois, um dois… Salta as poças de água como uma criança e retoca o batom nos lábios com a ajuda de um espelho gasto pelo tempo.
Um dois, um dois, um dois…
Dança sozinha pela avenida, rodopia nos seus próprios passos e murmura canções que só ela parece conhecer. E prossegue. Um dois, um dois, um dois… alheia ao emaranhado de mundo que a rodeia.
Está uma noite fria e a clientela parece escassear. Não tarda o dia acorda para mais uma manhã.
Um dois, um dois, um dois… continua ela entretida no seu baile singelo, abalroado pelo silêncio. Ela parece-me ser feliz. Ou aparenta pelo menos estar feliz, inconsciente da sua inconsciência. Mantém no rosto um olhar de menina, que os dias apagaram do corpo mas não da alma. Mantém no rosto uma doçura desconhecida que contagia.
Esta noite observo-a mais uma vez, enquanto o fumo do último cigarro se esvai na neblina da madrugada. Alegra-me saber que sobrevive a cada novo dia e a cada nova manhã. Alegra-me saber que canta e dança feliz. E que sorri quando os primeiros sinais do Outono se começam a fazer sentir.
Observo-lhe o pontapear das pedrinhas da calçada e a calma inquietação de quem parece nada temer.
-Hey, dear! – exclama ao sinal da minha presença. Lanço-lhe um sorriso e despeço-me com o piscar duplo de olhos que costumo lançar a quem me acarinha.
Prossegue solitária pela rua, àquela hora ainda vazia de agitação. Um dois, um dois, um dois… Salta as poças de água como uma criança e retoca o batom nos lábios com a ajuda de um espelho gasto pelo tempo.
Um dois, um dois, um dois…
Dança sozinha pela avenida, rodopia nos seus próprios passos e murmura canções que só ela parece conhecer. E prossegue. Um dois, um dois, um dois… alheia ao emaranhado de mundo que a rodeia.
Está uma noite fria e a clientela parece escassear. Não tarda o dia acorda para mais uma manhã.
Um dois, um dois, um dois… continua ela entretida no seu baile singelo, abalroado pelo silêncio. Ela parece-me ser feliz. Ou aparenta pelo menos estar feliz, inconsciente da sua inconsciência. Mantém no rosto um olhar de menina, que os dias apagaram do corpo mas não da alma. Mantém no rosto uma doçura desconhecida que contagia.
Esta noite observo-a mais uma vez, enquanto o fumo do último cigarro se esvai na neblina da madrugada. Alegra-me saber que sobrevive a cada novo dia e a cada nova manhã. Alegra-me saber que canta e dança feliz. E que sorri quando os primeiros sinais do Outono se começam a fazer sentir.