24 julho 2008

parte I

Olhava o mundo com os olhos de quem, inconscientemente, tem consciência de pouco saber. Olhava-o de uma outra perspectiva, por uma fresta que poucos pareciam conhecer.
O dia tinha sido igual a tantos outros. As horas passadas entre o repouso e a necessidade de se manter viva alteravam com os momentos de brincadeira que tantas vezes lhe eram roubados. No silêncio, magicava o fim da solidão que não tardaria a chegar. E aguardava pacientemente no confortável tapete que habitualmente lhe estava restrito.
Mas naquele dia algo se apresentava diferente. Uma porta aberta facilitara-lhe a tarefa de irromper na descoberta. E limitava-se agora a esperar, finda a agitação de quem alcança um objectivo há muito traçado. Limitava-se a esperar com a certeza de que pouco lhe restava.
Os outros costumavam dizer que a memória lhe costumava faltar. Que aparentava não dever muito à inteligência.
Mas, no fundo, o que tinha era apenas amor para dar. Amor, puro e simples, e gratidão.
Sabia que era amada. Sabia que faziam tudo por ela e pelo seu bem-estar.E, alheia à sua própria loucura, fazia tudo para retribuir.

1 comentário:

Particle disse...

O amor, por mais que queiramos, nunca pode ser retribuído com a mesma intensidade e forma aquando o forjamos no nosso coração.

As melhoras.