Presas por um baraço ao silêncio
dos lábios, pendem aos vendavais ou calmarias, imunes à coerência. Não dão
poemas. Não são canção. Mas, se se soltam, arrastam-me o mapa da alma para um
discurso sem crivo. Embriagam-se e expõem-me. Desenfreadas, revelam segredos.
Sem filtros, desmascaram-me. As palavras. Só ao parágrafo me respeitam.
Nunca escrevi um poema. Nunca
soube dosear as letras. Não tenho como condutar as frases. Nunca sei quando é o
fim. E de nada quero só metade. Saciar-me-ia, sem este arremesso sombrio de manchas
negras, se lhes soubesse tomar o peso. Não tendo como sabê-lo, exijo espaço. E
tinta. E, como elas, digo tudo, tal comboio prestes a descarrilar. As palavras,
paridas sem forma certa, nunca sabem o seu lugar.
Quis escrever-te. Poesia. Céu e
chão. Ar e asas. Lua. Estrela. Amor-poeta. Eclipse. Mundo. E eu a viver em ti. Mas
nunca soube escrever poemas. Talvez porque o poema já exista. E, sem lhe deitar
um ponto à frente, sejas tu…