Quero o mundo inteiro. Todo o
universo. De um trago só. Em todos os instantes, num único. Em cada partícula
de ar. De todas as partículas de ar que são minhas e tuas e nossas e que, por
nos beijarem sem sabermos, nos deixam unidos. Quero bebê-lo de cada letra de
todas as palavras. E que todas as palavras tenham alma e essência e vida
própria. E que ela me abalroe com a fúria de um tornado. Que me impluda em
emoções e colapsos. Que me arrebate. E me viva por dentro.
Quero tudo ao mesmo tempo. E que
o tempo seja agora. Que seja sempre agora. Como o tormento intrínseco dos
poetas. E que o amor, seja, também ele, inteiro como o mundo, todo como o
universo. Que seja cada célula do mundo inteiro, de todo o universo. E, na singularidade
de um momento, a elevação da soma de um milhão de paixões instantâneas
acumuladas. Que expluda em magnitude. O amor.
Porque tenho pressa, quero tudo
ao mesmo tempo. E que o tempo seja já. Porque se é para ser efémero que seja
intenso. E que tenha o tudo que somos no mínimo que há para fazer. Que seja a
embriaguez e a ressaca. O estímulo e o orgasmo. O carrossel e a montanha-russa.
A rampa e o muro. No mesmo trago. Em todos os instantes, num único.
Que sobrevivamos aos embates. Que
transformemos o refugo em felicidade. Que a tornemos faísca e chama e lume,
enquanto houver combustível. Que nos incendiemos. Que possamos arder. Que nos
deixemos arder. E que haja, de quando a quando, um igual que nos ampare, não
nas quedas mas na vontade volátil e ilusória de podermos, um dia, render-nos.
Que saibamos sempre que existem outros. E que é o seu peso que equilibra o
cosmos.
Aos amores vadios. Aos loucos.
Poetas. Solitários. Românticos. Amantes. “Porque bebemos, sabemos coisas.”