22 julho 2017

embriaga-te!

Quero o mundo inteiro. Todo o universo. De um trago só. Em todos os instantes, num único. Em cada partícula de ar. De todas as partículas de ar que são minhas e tuas e nossas e que, por nos beijarem sem sabermos, nos deixam unidos. Quero bebê-lo de cada letra de todas as palavras. E que todas as palavras tenham alma e essência e vida própria. E que ela me abalroe com a fúria de um tornado. Que me impluda em emoções e colapsos. Que me arrebate. E me viva por dentro.

Quero tudo ao mesmo tempo. E que o tempo seja agora. Que seja sempre agora. Como o tormento intrínseco dos poetas. E que o amor, seja, também ele, inteiro como o mundo, todo como o universo. Que seja cada célula do mundo inteiro, de todo o universo. E, na singularidade de um momento, a elevação da soma de um milhão de paixões instantâneas acumuladas. Que expluda em magnitude. O amor.

Porque tenho pressa, quero tudo ao mesmo tempo. E que o tempo seja já. Porque se é para ser efémero que seja intenso. E que tenha o tudo que somos no mínimo que há para fazer. Que seja a embriaguez e a ressaca. O estímulo e o orgasmo. O carrossel e a montanha-russa. A rampa e o muro. No mesmo trago. Em todos os instantes, num único.

Que sobrevivamos aos embates. Que transformemos o refugo em felicidade. Que a tornemos faísca e chama e lume, enquanto houver combustível. Que nos incendiemos. Que possamos arder. Que nos deixemos arder. E que haja, de quando a quando, um igual que nos ampare, não nas quedas mas na vontade volátil e ilusória de podermos, um dia, render-nos. Que saibamos sempre que existem outros. E que é o seu peso que equilibra o cosmos.


Aos amores vadios. Aos loucos. Poetas. Solitários. Românticos. Amantes. “Porque bebemos, sabemos coisas.”

07 julho 2017

no expectations

No expectations, dizes tu. E o fogo, a alastrar em mato seco, queda-se perante o esmorecimento, expectante. Cede à frigidez da terra, na ausência repentina de combustível, e dissipa-se.

No expectations, dizes tu. Como um pedido de desculpas precoce, atempado, na ânsia de desresponsabilização pelos danos que o incêndio possa provocar. Conheces a história e decoraste o desfecho, inflexível à eventualidade de uma reviravolta. Detesto cobardes!

No expectations, dizes tu. Porque grandes expectativas geram grandes desapontamentos, justificas, afastando da consciência a culpa, num acto intrínseco de protecção. Haverá vazio maior que viver sem expectativa?

Cumpro o papel cordial de te dar resposta, já sem género definido, e aceno. No expectations. Rendo-me. E as explosões enclausuram-se e perdem fôlego. O fogo extingue-se. E o incêndio é controlado antes de acontecer. É o fim antes do início ter tido tempo de ser sonhado.

É a possibilidade de magia desfeita, numa ofensa à acidentalidade do amor. É o ideal de liberdade a agrilhoar mais que a solidão, na ilusão utópica de que é possível viver sem correr riscos emocionais. Almas quietas vivem mais tempo. Mas morrem mais cedo.

Recuso uma existência sem expectativa. E, face à aparente inevitabilidade da desilusão, entrego-me à probabilidade, ínfima mas concreta, de rebentarem fogos-de-artifício. Adormecer sem ter com que sonhar é o mais solitário de todos os actos.