Ser portuguesa é o mesmo que ser
mãe de um toxicodependente. Ser portuguesa é ter um filho enfermo, pútrido, decadente.
Um filho que se estende a milhares de rostos, todos eles máquinas de ruína e
destruição. Ser portuguesa é ser mãe-mártir. É ter deveres, encargos,
obrigações. E poucos, nenhuns, direitos – que direitos poderá uma mãe reivindicar
na relação com o seu filho?
Afinal, ser portuguesa é ter não
um, mas 563.500 filhos, todos eles enfermos, pútridos, decadentes, ruinosos,
destruidores. Ser portuguesa é ter uma casa cheia de gente parida, alimentada,
educada, amparada. Gente ingrata, mal-agradecida, exigente. É, ainda assim,
continuar a sustentá-la. É continuar a contribuir, em prol da moral ou do
afecto, para o propagar de uma nódoa que se estende e contagia.
Ser portuguesa é fazer um
investimento a fundo perdido. É nascer já com dívidas. É ter um bando de
rebeldes sem causa, vazios de ideais, acéfalos, parasitas, a sugar-lhe a mama e
os ossos. Ser portuguesa é ter como único fim morrer raquítica, enfezada,
mirrada.
Ser portuguesa fez-me mãe de 563.500
filhos (da puta, suponho eu). Tenho 563.500 filhos, funcionários públicos, que
me deveriam prestar contas e servir, mas que me roubam e ultrajam. Tenho 563.500
filhos que me ameaçam, me maltratam, me burlam. Tenho 563.500 filhos
incompetentes, incapazes, imbecis. Tenho 563.500 filhos que só me dão
desgostos. Tenho 553.500 filhos e todos eles me envergonham.
Os que me deveriam dar alguma
segurança social usurpam-me o chão. Os que me deveriam ajudar a ter equilíbrio
financeiro esvaziam-me os bolsos. Os que me deveriam tratar da saúde
arrancam-me o pêlo. Os que me deveriam fazer justiça ignoram-me. Os que me deveriam
proteger intimidam-me. E sempre que peço justificações, todos me dizem: não fui
eu! Como se fosse apenas mais uma tablete a desaparecer da gaveta da cozinha.
Ser portuguesa é ter 563.500
filhos toxicodependentes e ser vítima constante de violência doméstica. Ser portuguesa
deveria dar direito a viver em casas-abrigo. Ser portuguesa é, todos os dias,
desejar ser estéril.
(Ser portuguesa é ainda ter, pela
primeira vez, um texto repleto de erros e não saber sequer como o corrigir).