Choro às vezes a inquietação. Quando os outros arrastam os
pés e a míngua no chão. Grito insatisfação, sabendo-me já satisfeita. Faço do
trabalho maleita. E da utopia da solidão comunhão. Vejo gente na rua,
murmurando agoniada. Ou lambendo tristezas à ombreira da porta constantemente cerrada.
Vejo pobreza envergonhada. E finjo não perceber.
Ameaço o vazio, nos ataques afoitos do silêncio. Estremeço por dentro. Trago ingenuidade nos braços e descontentamento na alma, quando faço do mundo fantasia e fecho os olhos à desgraça.
Ameaço o vazio, nos ataques afoitos do silêncio. Estremeço por dentro. Trago ingenuidade nos braços e descontentamento na alma, quando faço do mundo fantasia e fecho os olhos à desgraça.
Choro às vezes inconformismo. Quando choram os outros a dor. Falo dos males da mente, de desilusão e desamor. Mas que sei eu de angústia ou de medo?
Vejo gente a morrer por dentro, já moribunda por fora. Inalo
o fumo de mais um cigarro e finjo fazer das minhas batalhas vãs glória.
Lamento um amanhã que há-de chegar igual. Lamento as viagens
que só faço nas linhas do papel. Lamento o meu próprio lamento. Porque exibo revolta
nos olhos e os outros cicatrizes na carne, fome na boca e doença no peito.
Não sei da rudeza da vida porque dela nada conheci. Sei de
sonhos, imaginação e magia. Sei, sim, de fantasia. Ainda assim, vagueio
sozinha, sofro males que ali não estão - um ser ridículo a enfrentar inimigos
de cartão.
Às vezes choro anseios e frustrações. Invento tumultos. Mas que mais sou eu que um bicho egoísta, narcisista e inculto, certo de já nada querer saber?
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