Às vezes olho para ti durante um
período de tempo certo. Durante um período de tempo que tem
uma dimensão exacta, precisa, perfeita, mas que não sei
como contabilizar. Olho para ti entre a ausência de
pressa e o desconforto da demora. E a harmonia desse instante, que não sei quantos
instantes tem dentro, desconcerta-me.
Olho para ti sem te espreitar, sem te observar, sem te gastar, sem te esventrar, sem querer mais. Olho para ti só para te ver. Olho para ti porque te quero ver. Por isso olho para ti. E vejo-te. E os meus olhos gostam. E eu gosto também.
Às vezes olho para ti e click. As fracções, que não sei se são segundos, minutos ou horas quase inteiras, rompem os parâmetros da temporalidade e apegam-se à memória já com o estatuto de fotografia. Têm margens brancas, o tamanho que vai do indicador ao polegar e notas soltas escritas a preto e à mão numa letra que não sei se é minha e cuja mensagem não decifro. Há lá algo mais juvenil que as polaroid.
Às vezes as fotografias que tenho de ti duram três passos. Às vezes duram um acorde. Às vezes duram a suspensão do ar entre uma inspiração e uma expiração. Às vezes duram o silêncio todo. Às vezes cabes nelas inteiro. Às vezes não. Em muitas estás em pedaços, esquissos, frestas, que só eu sei a que parte pertencem. Todas têm um movimento, imparável, indomesticável, infinito. Todas têm cheiro e temperatura e tonalidade e luz e sombra.
Às vezes o álbum salta-me à vista e eu olho-me de fora. Há um poial e dois copos de vinho, numa rua estreita de calçada torta mas onde o céu é maior. Há uma noite que não sei se é de primavera, se de verão fresco, se de outono morno. Há um braço sem rosto a pousar-me no ombro ao de leve e a sorrir. E eu aconchego-me. Há dois pares de olhos a sorrir-te. E há ternura e encanto e leveza e clareza. É o mundo a abanar-me os alicerces num sopro que é doce. É a criatura sem feições a piscar-me o olho e a confirmar o que a cegueira não queria que visse. É a criatura a rir-se de mim e a entregar-me o bilhete de chegada. Sou eu a abandonar, por fim, a teimosia crónica de me querer sempre errante. Brinde a nós.
Olho para ti sem te espreitar, sem te observar, sem te gastar, sem te esventrar, sem querer mais. Olho para ti só para te ver. Olho para ti porque te quero ver. Por isso olho para ti. E vejo-te. E os meus olhos gostam. E eu gosto também.
Às vezes olho para ti e click. As fracções, que não sei se são segundos, minutos ou horas quase inteiras, rompem os parâmetros da temporalidade e apegam-se à memória já com o estatuto de fotografia. Têm margens brancas, o tamanho que vai do indicador ao polegar e notas soltas escritas a preto e à mão numa letra que não sei se é minha e cuja mensagem não decifro. Há lá algo mais juvenil que as polaroid.
Às vezes as fotografias que tenho de ti duram três passos. Às vezes duram um acorde. Às vezes duram a suspensão do ar entre uma inspiração e uma expiração. Às vezes duram o silêncio todo. Às vezes cabes nelas inteiro. Às vezes não. Em muitas estás em pedaços, esquissos, frestas, que só eu sei a que parte pertencem. Todas têm um movimento, imparável, indomesticável, infinito. Todas têm cheiro e temperatura e tonalidade e luz e sombra.
Às vezes o álbum salta-me à vista e eu olho-me de fora. Há um poial e dois copos de vinho, numa rua estreita de calçada torta mas onde o céu é maior. Há uma noite que não sei se é de primavera, se de verão fresco, se de outono morno. Há um braço sem rosto a pousar-me no ombro ao de leve e a sorrir. E eu aconchego-me. Há dois pares de olhos a sorrir-te. E há ternura e encanto e leveza e clareza. É o mundo a abanar-me os alicerces num sopro que é doce. É a criatura sem feições a piscar-me o olho e a confirmar o que a cegueira não queria que visse. É a criatura a rir-se de mim e a entregar-me o bilhete de chegada. Sou eu a abandonar, por fim, a teimosia crónica de me querer sempre errante. Brinde a nós.