25 abril 2013

abril

Espero Abril o ano inteiro. E depois vejo-o passar, deixando-me a culpa nos braços. Carrego-a junto ao peito como a um bebé choroso que precisa de berço. Embrulho-a numa manta de arrependimentos, tecida em paciência mórbida no andar monocórdico dos dias. Abril passa e eu cá fico, com o mesmo acenar vazio e desengonçado, lambendo um gosto amargo a saudade.
 
Espero Abril o ano inteiro com os olhos carregados de esperanças e as mãos entorpecidas no cansaço dos bolsos. Fosse o fado justo e ter-me-ia lançado ao mundo mais cedo. Não me trocasse a cronologia as voltas e teria talvez tido alma a unir os ossos. Erros crassos que me ditam a sina.
 
Vejo Abril passar como uma corrente de ar a atravessar o frio dos calabouços onde guardo a minha liberdade. Ataques de pânico a aprisionar-me dentro da minha própria mente. E se os fantasmas me pousam nos olhos encerro-me ainda mais em angústias. Não avanço nem recuo, neste encosto morno a que me acomodei.
 
Vejo Abril passar e agarro-me com força à solidão que me afasta do medo e do abismo. Só ela me liberta e consola, entre os muros que vou erguendo contra o exterior. Vejo Abril passar deste mundo almofadado onde o teu abraço me esconde, acaricia e protege.
 
Abril és tu, mãe, todos os dias, a amparares-me as quedas.

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