22 março 2012

amor

Ele era mais velho que ela algumas luas. Ela nascera num país mesmo ao lado do dele. Talvez se tenham conhecido na fronteira. Talvez ele tenha ido de férias. E ela voltado em trabalho. Talvez ele lhe tenha pedido um beijo. E talvez ela lhe tenha oferecido a vida toda.

Talvez tenha sido ao contrário.

Partilhavam juntos uma casa só com porta de entrada. Partilhavam juntos um espaço sem espaço para divisões. As cores do céu mudavam. Alteravam-se e alternavam-se de forma cíclica.

Nunca os vira juntos.

Ele vivia entre o pôr e o nascer do sol. Ela usufruía das horas que se lhe seguiam. Ou que o precediam. Encontravam-se naquele ponto de transição entre um mundo e o outro. Todos os dias.

De manhã ela compunha-se. Penteava-se. Olhava-se ao espelho. E saia. Ao entardecer ele levantava-se. E saía. Tal como acordara.

Ele caminhava sozinho sob a lua. Ria muito. Ouvia tecnho e transe. Ia a festas. Ela passeava, também sozinha, com o Sol. Sorria. E gostava de ritmos latinos.

Nunca os vira juntos. À excepção daquele dia.

Uma vez por semana ele acorda mais cedo, sai mais cedo, entre o cair e o pôr-do-sol, naquele instante em que as luzes se confundem ainda com as sombras. Uma vez por semana ele abdica de si e faz questão de a acompanhar a uma aula de dança. Faz questão de a fazer com ela. Faz questão de ouvir a música dela. Faz questão de ser o seu corpo a conduzi-la. Uma vez por semana, os seus universos caminham alinhados.

Foi nesse preciso instante que percebi que, afinal, eles se amavam mesmo.

2 comentários:

Luz disse...

LINDO!

LiSa disse...

Parece que o amor tem destas coisas.
Obrigado pela visita.
Abraço.