Ele era mais velho que ela algumas luas. Ela nascera num país mesmo ao lado do dele. Talvez se tenham conhecido na fronteira. Talvez ele tenha ido de férias. E ela voltado em trabalho. Talvez ele lhe tenha pedido um beijo. E talvez ela lhe tenha oferecido a vida toda.
Talvez tenha sido ao contrário.
Partilhavam juntos uma casa só com porta de entrada. Partilhavam juntos um espaço sem espaço para divisões. As cores do céu mudavam. Alteravam-se e alternavam-se de forma cíclica.
Nunca os vira juntos.
Ele vivia entre o pôr e o nascer do sol. Ela usufruía das horas que se lhe seguiam. Ou que o precediam. Encontravam-se naquele ponto de transição entre um mundo e o outro. Todos os dias.
De manhã ela compunha-se. Penteava-se. Olhava-se ao espelho. E saia. Ao entardecer ele levantava-se. E saía. Tal como acordara.
Ele caminhava sozinho sob a lua. Ria muito. Ouvia tecnho e transe. Ia a festas. Ela passeava, também sozinha, com o Sol. Sorria. E gostava de ritmos latinos.
Nunca os vira juntos. À excepção daquele dia.
Uma vez por semana ele acorda mais cedo, sai mais cedo, entre o cair e o pôr-do-sol, naquele instante em que as luzes se confundem ainda com as sombras. Uma vez por semana ele abdica de si e faz questão de a acompanhar a uma aula de dança. Faz questão de a fazer com ela. Faz questão de ouvir a música dela. Faz questão de ser o seu corpo a conduzi-la. Uma vez por semana, os seus universos caminham alinhados.
Foi nesse preciso instante que percebi que, afinal, eles se amavam mesmo.
2 comentários:
LINDO!
Parece que o amor tem destas coisas.
Obrigado pela visita.
Abraço.
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