Tenho pressa. Como se temesse que os dias se acanhem. Que decidam, por si mesmos, pousar as horas e desacelerar o passo. Que deixem de caminhar e parem, amorfos. Tenho pressa. Afogo. Tenção. Tenho pressa num amanhã que chega tantas vezes já tardio, cansado e sem ânimo. Tenho pressa. Como se não houvesse já tempo.
Tenho pressa, já disse. Como se os minutos deixassem de se aninhar, infinitamente, uns nos outros. Como se houvesse determinado espaço físico a percorrer durante o período da existência. Milhas. Léguas de circuito obrigatório mas sem troço definido.
Deixo que o comprimento das pernas e o alento da alma me distanciem da partida. Não conto as manhãs nem imponho destinos. Corro o quanto me é permitido e retrocedo sempre que os pés me escorregam e tropeço. É assim, em ciclos desajustados mas contínuos.
E é aí que, sem esforço, separo o essencial do supérfluo. O imprescindível do banal. É aí que, num inconformismo quase crónico, aceito. Aceito que é hoje assim como já o foi em tantas outras madrugadas. Aceito a incapacidade mórbida de me render ao aparentemente óbvio e implacável. Ao aparentemente lógico e irrecusável. Aceito que o verdadeiramente importante é incontornável. E conformo-me. Sem resistência ou vontade. Conformo-me, feliz por não estar ainda cansada. No fim, saberei sempre que adormeço de cabeça erguida.
2 comentários:
muito bom... senti-o...
Obrigado, Luis. Abraço :)
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