Na ausência soberana das palavras engulo o silêncio. Mastigo-o. Devoro-o. Deixo-o fermentar cá dentro entre o espaço frouxo que resta do que já foi. Consome-me.
Ditador impune e impiedoso.
Na ausência castradora das palavras arremesso vazios, enquanto no vácuo fervilham afectos e pesares. Enrodilho emoções como quem espreme de um pano a sujidade. Mais do que qualquer outra dor, fere-me a incapacidade mórbida de fazer sarar as feridas. Nódoas negras que se arrastam do interior à frágil flacidez da carne. Se ao menos as palavras ainda libertassem. Se ao menos não fossem já inglórias...
Declino a impossibilidade de organizar letras sobre a brancura imaculada do papel. Recuso a implacabilidade com que me fogem as frases. Forço as tensões. Firmo a vontade. Combato. Enquanto aguardo o passar melancólico e demorado do tempo.
Talvez noutro dia.
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