Acolhe-me nos braços. Asila-me o corpo molestado por um cansaço fictício. Por um ócio estagnante que desemboca depressivo em silêncio. Embala-me. Ouve quieto os lamentos que não murmuro. As cantigas de uma história que não pára de ruir. E madrugada dentro lá me afaga os ombros doridos, pesados de pensamentos e pesar.
.
Entreguei-me. Sem modéstias. Acomodei-me. Fui-me acomodando à sua presença. Fui cedendo ao seu consolo. Como em tudo, sem impor limites ou tensões. Criei um laço agora difícil de quebrar. E uma dependência tão ambígua quanto reconfortante. É aqui o meu cemitério de angústias e anseios. O meu altar de seneridades e extravagâncias.
.
No vazio de mim que me assombra a casa é ele aconchego e amparo. Nas noites que sentem, frias, a mudança das estações é ele agasalho e guarida. Abrigo e segurança. As ruas, irascíveis de inimizades, trazem-me ainda a memória de companhias de solidão.
.
Vou abandonando os livros pelos cantos. Ridículo serem eles as minhas asas. Palavras que leio e jogo fora. Vergonhoso serem elas o meu alento. Refúgio à ausência de outros.
.
É neste sofá, incómodo e desajustado, que me ultimo. Hoje. Como em tantos outros serões. E no ar, como por dentro, resta o sabor amargo de um café.
2 comentários:
valeu a pena esperar!
Muito bom Lisa
Obrigado.
Enviar um comentário