Resta sobre a mesa um único copo. Meio cheio. (Talvez meio vazio.) Permanece pousado junto a uma farta travessa de comida, mal encetada. Sobre a toalha que cobre o tampo de madeira preparado para as refeições jaz um par de braços, caídos, abandonados à solidão. Duas mãos que se têm uma à outra como única e eterna companhia. Como único e eterno aconchego. Com único e eterno auxílio.
.
Lavada a cara pela angústia, é ali que ela regressa. Noite após noite. Sempre. Fustigada por uma necessidade de ar que nunca se esgota e que a encaminha para vagabundagens tardias e sem nexo. Mas que, ao mesmo tempo, a traz sempre de volta ao ponto de partida, sem que daí arranque, em madrugada alguma, uma nova meta.
.
Enxuga as lágrimas e deixa tudo como está. De que serve retomar o incómodo processo de manter a casa, infrutiferamente, organizada se é ela a única a dar-lhe uso?
.
Preparara o jantar confiante de companhia. (A felicidade existe apenas no instante em que fechamos os olhos.) Ela chegara. Jantara, incomodada. E partira. Aparentemente sem deixar rasto. Levantara a loiça, bebera o último trago de vinho que lhe restava no copo e fechara a porta atrás de si, isolando do lado de dentro o desconforto.