16 junho 2010

inércia

Continuo agrilhoada a este ócio que me contamina. Narcótico que vicia e atordoa. Soporífero, anti-depressivo, de nódoas negras e fungos emocionais. Que se instala e, crónico, abala os alicerces dos dias então comuns.

Continuo aqui. Ainda oca. Ainda estéril. Ainda infértil. Vazia, abstracta, abstraída. A perseguir um cordel cada vez mais remoto.

Procurei memórias e reflexos. Vasculhei-me. Revolvi histórias e cantigas. Estive atenta a estímulos e prazeres. Fortuitos. Ocasionais. Imprevisíveis.

Talvez, como Baptista-Bastos, um odor – fresco ou agoniante -, uma imagem – visualmente brusca ou caoticamente atraente – uma sensação – inexplorada ou reconstruída – fosse engodo para a dança, cúmplice, entre a caneca e o papel.

Pensei falar de sonhos. Ou escrever sobre o espelho que, assustador, já não reflecte a minha imagem. Ou contar as fábulas que crio sobre os outros - gente anónima que me deleita ao cruzar este mundo. Ou aniquilar em palavras a batalha pessoal que travei na clandestinidade. Mas não. De nenhum destes pressupostos surgiram as letras certas com que sujar o papel.

Talvez outro dia.

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