28 maio 2009

saudade

A aproximação de cada novo fim-de-semana arrasta consigo esta nostalgia da cidade que me viu crescer.
Os dias passam.
As semanas correm.
E o tempo que foge desenfreado teima em não ser suficiente para matar saudades.
Hoje sinto a falta de casa.
Hoje sinto a falta das gentes da minha casa.
E anseio, com uma força desmedida, um regresso sem entraves, sem preocupações, sem turbulências ou impedimentos.
Sinto a falta dos abraços familiares.
Do aconchego dos amigos.
Dos sorrisos do primo mais novo.
Do carinho do irmão da mesma idade.
E do afago de uma mãe sempre presente.
Hoje sinto a falta de tudo isso e muito mais.
E hoje apenas a certeza de poder retomar esse rumo me deixa capaz de prosseguir esta luta interminável.

22 maio 2009

poema do português errante

E para me redimir daquilo que disse da poesia do Manuel Alegre, segue aqui um dos poemas de que gostei. Sim, porque nem toda a escrita lírica do homem é má.
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"Por um caminho à noite caminhava
caminhava de noite sem sentido
pela própria cadência era levado
caminhava movido por um ritmo
a música interior que mais ninguém
ouvia. Caminhava de noite e não sabia
sequer o rumo e o sentido. Nem
a rosa dos ventos e os pontos cardeais
nem Cruzeiro do Sul nem bússola nem estrela.
Caminhava por caminhar. Apenas
por um íntimo impulso um movimento
irreprimível do seu próprio pensamento.
Ou nem sequer. Talvez não fosse
senão a própria marcha. Um corpo
avante. Um corpo em seu mistério caminhante
não mais que um corpo em marcha no caminho
ninguém sabe se certo se perdido.
E só se ouvia o som do seu arfar
e não havia aliás outro sentido
senão o de caminhar por caminhar."

21 maio 2009

paixões. simplesmente.

Vivo apaixonadamente.
Como, de resto, sempre o fiz.
O que não significa que me apaixone facilmente.
Apenas que sobrevivo de paixões e que não o saberia fazer de outra forma.
Apesar dos lamentos.
Das lamúrias.
E dos queixumes.
Vivo apaixonadamente.
Porque é esta a única forma de me sentir.
Apaixono-me pela minha casa e pelo meu trabalho.
Pelo convívio e pela solidão.
Pela poesia e pela prosa.
Pela música e pelo futebol.
Pelo Alentejo e pelo Algarve.
Apaixono-me simplesmente.
E sou feliz assim.

15 maio 2009

no mundo dos outros - versão X

Saio de casa numa noite quase de Verão, para ir comprar tabaco. Só e nada mais. Aguardo a minha vez na estranha fila do quiosque. E há logo quem me dirija a palavra.

- Eu sei o que é que a menina tem. E sei como curá-lo – disse-me um senhor (que eu não chamo maluco a quem não conheço).
- Diga lá então.
- A menina foi invadida por um ser, que a está a possuir. Foi picada.
- Por um mosquito…
- Não brinque que isto é sério. Não foi um mosquito. Foi um ser, mas não se preocupe que não lhe quer fazer mal. Vai ensinar-lhe como ser uma boa pessoa.
- Mas eu já sou boa pessoa.
- Vai ser ainda melhor. Mas se quiser que se vá embora, basta fumar este charuto - disse, enquanto sacava de um do bolso – vai ver que essa tosse desaparece logo e que não se volta a engasgar. Isso é o ser que está dentro de si. Acredite, que é verdade. Também já passei por isso.

E eu lá fui à minha vidinha, de charuto na mão e sem tabaco, que me libertasse do ser que me invadia e das conversas dos tontos da rua. E é assim que se vai vivendo no mundo dos outros.

05 maio 2009

...

Pela primeira vez, num quarto de século de existência, falhei a Ovibeja.
E falhei-a por uma série de estranhos motivos.
E um deles foi assistir à cabazada futebolística sofrida pelo SC Olhanense.
Mais valia ter ido ouvir a Rita Redshoes, dar beijos à família e beber copos com os amigos.