Uma gaja sai de casa a caminho de Alcantarilha, que fica algures no concelho de Silves, para ir à inauguração de dois novos campos de golfe com a presença do senhor ministro da Economia.
Está numa ponta do Algarve (a contrária aquela onde tem de ir) e ainda passa por Albufeira porque precisa de falar com a secretária do senhor presidente da Câmara (é só senhores, o dia inteiro). Quando a conversa termina ruma a Alcantarilha. Entretanto, telefonam à gaja a avisar que afinal a inauguração vai começar mais tarde e que quem vai estar presente não é o senhor ministro mas sim o senhor secretário de Estado do Turismo.
E a gaja pensa: o que raio vou eu fazer nestas duas horas e meia? Sim, DUAS horas e MEIA. E chega a Alcantarilha para comprar o jornal e matar tempo no café. Só que Alcantarilha é tão grande, tão grande, tão grande que só tem igrejas e cafés para a malta nem vê-los.
Então, a gaja resolve ir à procura do dito empreendimento turístico onde vão ser inaugurados os campos de golfe. Pelo sim, pelo não, fica já a saber. Só que entretanto, foi parar a Silves e quando reparou já tinha andado 30 quilómetros no sentido inverso. Depois de comprar o jornal (que mais um bocadinho já era do dia anterior) e tomar um café, um puto com cerca de 6 anos ameaça roubar-lhe (MESMO) a porcaria do telemóvel. E a gaja, que resolveu calçar umas botas de salto e não lhe apetece andar a correr atrás de ninguém, pega no carro e tenta encontrar o caminho de volta.
Pelas 19 horas (como marcado), lá consegue chegar ao resort, onde uma multidão de ar arrogante continua a aguardar.
Click click que lá vem a presidente da Câmara. Click click que é o da Região de Turismo. Click click que chega o administrador da cadeira de hotéis. Click click que é o maluco com ar de importante. E, click atrás de click, passa uma hora e meia. E o senhor secretário de Estado ainda não deu ares de quem está vivo.
E a gaja a pensar: ok, a primeira tacada é dada cá fora. A placa a ser descerrada está colocada cá fora. Os discursos têm lugar cá fora. Esta gentalha está toda cá fora. E esta merda só tem iluminação lá dentro. Como raio vou eu tirar fotos sem luz?
E entretanto, pelas 21 horas, lá o homem chega. E arrogância das arrogâncias em vez de seguir a porra do programa, resolve sentar-se à mesa para jantar.
E aqui a gaja, farta da merda de dia, da porra dos pés que doem, da máquina mais o gravador mais o caderno mais as canetas mais o dossier de imprensa que pesam como o raio, pegou nas perninhas, fez adeus à assessora e pôs-se a andar.
Raios parta esta cambada que não respeita ninguém, não se lembra que há quem tenha de trabalhar porque é dia de fecho de edição e a informação não pára e a única coisa que faz para que o país ande para à frente é fazer os outros aguardar pacientemente.