O patriotismo causa-me náuseas. Revolta-me o estômago. Faz-me
ter vontade de estripar o peito, não vá o mal propagar-se geneticamente.
Portugal envergonha-me. Mas, se o país me causa repulsa, as suas gentes
amedrontam-me.
Na mesma semana, as pseudo-feministas - iluminadas subitamente
pelas sólidas correntes de pensamento facebookianas - decidem que a melhor
forma de luta contra a violência doméstica é um (também ele pseudo) apagão
feminino para se erguerem depois em uníssono na defesa do menino de ouro,
acusando a grandessíssima puta que lhe quer extorquir uns tostões de uma
campanha de marketing pessoal feita à custa (adivinhem!) de uma agressão
sexual.
Ainda na mesma semana, as mesmas pseudo-femininistas continuam a
publicar os grandes planos das (quiçá também elas pseudo) mamas numa ode aos
últimos dias de Verão, elegendo depois, como trunfo, o facto de a menina não
ter ido com ele para o quarto de arma apontada à cabeça. É que, de acordo com a
iluminada linha de pensamento das amebas, se uma mulher vai com um homem para o
quarto quer, claramente, ser alvo de violação. E se casa com um homem então aceita,
prontamente, levar, amiúde, uns murros no focinho e uns pontapés nas trombas.
Mas atenção aos comentários às fotos das minhas mamas. Eu queria era mostrar o
pôr-do-sol lá atrás e é nisso que se devem focar.
No fundo, o índice de indignação reside em factores de ordem
estética e financeira. É que o taxista João Máximo é velho, gordo e sebento.
Um criminoso, por dizer que as meninas virgens servem para ser violadas. E
Cristiano – o maior símbolo da grandeza nacional – joga à bola e ganha milhões.
Uma vítima, injuriada, caluniada. Grandessíssima puta que se fartou de rir e
dançar com ele. Sentenciamo-lo, sem questionar, a uma veemente inocência porque
é esse o nosso papel enquanto portugueses.
Em dia nenhum fomos as 21 mulheres, mortas entre 1 de Janeiro
e 12 de Setembro de 2018, por violência doméstica. Em dia nenhum fomos as 2.158
vítimas de crimes sexuais, registados pela APAV entre 2013 e 2016. Mas hoje
somos todos Ronaldo. Porque o nosso patriotismo – acéfalo – é esse mesmo.
Calhando agora vamos todas à igreja acender uma vela pelas
crianças vítimas de abuso sexual. Às mãos da igreja católica. Ou comprar o
livro da Paula Bobone. Porque para pôr fim ao bullying basta que as crianças
sigam para a escola de banho tomado e cabelo alinhado.
Obrigada, mundo, por não me fazeres ter vontade nenhuma de
propagar a (vossa) espécie.