É-me recorrente ter vontade de
esbofetear pessoas. Acontece-me com a frequência certeira com que os dias se
sucedem uns aos outros. A fuga constante a essa tendência intrínseca é a prova
maior do meu auto-controlo. Abomino este impulso natural mas sei-o verdadeiro. Forço
as convicções a terem mais força que os estímulos exteriores. E domino-me. A
muito custo, sabendo-me errante na essência, domino-me.
Em dias como o de hoje, em que se
assinala a igualdade no seio de cada município, esse impulso é gritante. E eu fervo.
Em sofrimento, empenho-me na tentativa de transformar um par de sopapos
acompanhado de um grito aos ouvidos num método pedagógico que seja mais
funcional. Mas o desalento custa-me. Cansa-me.
“Perdoai-os que eles não sabem o
que fazem” não me serve de máxima. Não perdoo. Impinjo informação a quem não a
procura. Explico, em paciência que dói, a quem não quer saber. Questiono e
simplifico. Exemplifico. Mas a ignorância alheia transtorna-me. Incomoda-me e
corrói-me. E eu não perdoo. Desculpo a falta de conhecimento e ofereço soluções.
Mas não perdoo a indiferença. Não perdoo a ignorância. Porque este mundo também
é meu.
Incomodam-me as caminhadas por
uma causa. (De que serve tanta gente junta se não se chega a ninguém? Foda-se!)
Incomodam-me as frases feitas e os vídeos históricos. (Outra vez a mesma
conversa? Foda-se!) Incomodam-me os colóquios, as conferências e os debates, de
participação livre, onde só vão os que já nutrem interesse pelo tema. (Quão difícil
é perceber que é aos que não querem saber que é necessário chegar? Foda-se!) Incomodam-me
os conceitos lapidados, uma e uma outra, em bases políticas que se renovam sem
nunca atingir o patamar da acção prática. (Quantos nomes diferentes deve ter o
mesmo problema antes de se procurar realmente uma solução? Foda-se!)
Chega de apelar à reflexão. Já
chega! Já chega de gente que se diz a reflectir. Há décadas que se finge reflectir.
Há décadas que se fazem estudos e relatórios. É preciso agir. É urgente fazer. É
urgente informar. É urgente educar. É urgente o ensino de uma cidadania activa.
É urgente uma aproximação às comunidades e uma intervenção, prática, no contexto
escolar e familiar.
A mudança começa em nós. Mas quem não tem em si essa chama
precisa de um estímulo exterior que permita a combustão. É que, afinal, não
temos todos o mesmo peso sobre a terra.