Procurei por ti em todos os
rostos, julgando ver pedaços teus em cada um. Esperei-te a cada um dos
instantes desta noite inteira. E quis prolongá-la para lá de todas as horas,
sabendo-a a última. Arrastei-a enquanto pude, inventado cigarros que fumar, tempo
que dizer.
Quando os rostos se esgotaram
esperei, imóvel, que me surpreendesses. Não me mexi, não fosse perder-me do teu
encontro. Mas o teu abraço não chegou. E o frio que veio da ausência da tua
vontade entranhou-se-me na pele em teu lugar e enregelou-me a alma. O mundo
doeu-me. E as lágrimas soltaram-se, ainda mornas de tanto querer. Chorei até
que a noite se finasse. E tu nunca chegaste.
Quis “abrir-me contigo, desabafar
contigo, falar-te da minha solidão”. Achei que compreenderias. Mas tu nunca
vieste. E as palavras da canção que sei de cor e que hoje podia ter sido nossa
tiveram como único fado o meu abandono. “O Bairro do Amor é uma zona marginal,
onde cada um tem de tratar das suas nódoas negras sentimentais”.
Podia ter-te amado...