09 junho 2013

teoria

Quando me disseram que a estrada era longa expliquei que já estava pronta. Garantiram-me que o fim ficava longe. Advertiram que o mundo me ia engolir. Não tive medo. Enfiei um punhado de esperanças nos bolsos e guardei o ar de casa na palma das mãos. Saberia sempre por onde voltar.

Fiz-me ao caminho sem mais bagagem. Embaraços na vista a desempeçar, devagar, os fios do percurso. Havia círculos e encruzilhadas. E sinais que eu não sabia traduzir. Andei. Andei. Andei. Até que me perdi.

Procurei a sabedoria nos anos dos outros e escutei com atenção. Mas o mapa que fizeram não me servia afinal. Indicaram-me a saída e eu fingi que agradecia. Deixei pedaços de carne. Roubaram-me bocados de alma.

As milhas que eram novas pisei-as duas vezes. Mais até. Queria ter a certeza. Depois aborrecia-me. Fiz cálculos, apliquei estatísticas, desenhei tabelas. Se era por ali eu queria saber porquê. O resultado que me parecia sempre tão certo à primeira mostrava-se falível num instante. A fórmula estava, com certeza, avariada.

A espontaneidade cedo se tornou obsessão. Não sabia o que havia do outro lado mas queria lá chegar. Pus duas palas nos olhos para não me desviar. Fui em frente. Se havia muros devo tê-los derrubado. Se havia portas, passei-lhes certamente ao lado.

O vazio já pesa por dentro. E a cegueira engana os passos. Já me doem os pés e as pernas estão cansadas. Tenho os ombros pendidos e os trilhos esburacados.

Hoje fui-me ao dicionário ver o que era o amor. Dizem que é uma "viva afeição que nos impele para o objecto dos nossos desejos; inclinação da alma e do coração". Olhei para dentro e vi-te lá espelhado. De que me serve tanta teoria se tu estás mesmo aqui ao lado?