Ensoparam-se as compressas que arrastam a vida pelas veias. Quebraram-se de inutilidade as braçadeiras que as mantêm transitáveis. Os esguichos de energia, que outrora incandesciam e se reproduziam incessantemente, em rastilho, ressequiram. Minguaram. Murcharam. Absortos em si mesmos esvaíram-se, debilitados e inválidos.
Corre agora o ar desprovido de oxigénio e do seu propósito. Balança o cérebro destituído de fluidos e equilíbrio. Oscilam os dedos ao assentar nervoso da caneta frígida sobre o papel. Insanidade letárgica.
Adormeço forçada pela ausência de conteúdos com que ocupar o metódico correr do relógio. Adormeço ciente da ânsia que me aconchega no colo. Quero dormir só para dar ao tempo a oportunidade de se inverter e me restituir aquilo que me abandonou. Quem sabe acordo, hoje, talvez hoje, talvez seja hoje, será hoje?, recomposta e frenética. Viva.
O que fazes? Escrevo. Aliás, já escrevi. Agora já não. Mas já escrevi. Já me entretive a debitar letras de um qualquer alfabeto para as impregnar de sentido no branco de uma folha. Já disse tanto sem precisar que o corpo me mostrasse como o fazer. Já gritei tanto em silêncio. Agora já não.
Parece que a perdi. Parece que me largou. A maldita criatividade. Vício que satisfaz e corrompe. Que dá para depois cobrar. Que se aproxima, suave, e se afasta, sumptuosa e imponente, certa da dependência e do desejo causados.
Quero-a de volta. Quero-a a invadir-me de adrenalina o cinzento oco desta mente. Quero-a a fazê-lo manifestar-se, sedento, sequioso, ávido de funcionamento e utilidade.